Consultório financeiro - Texto

Quais são os princípios-chave para o planejamento financeiro?

Raphael Carneiro, CFP®, responde:

Entender o conceito da pergunta é o caminho para compreender e seguir bem com o planejamento financeiro. Quem é você? Quais seus traumas? Quais seus desejos? Quais suas possibilidades? São perguntas que precisam ser respondidas antes e durante a elaboração do planejamento financeiro. Elas vão traçar o perfil de cada pessoa para que os próximos passos a serem tomados sejam pensados de acordo com a realidade de cada um.

É natural que, ao falar de planejamento financeiro, a primeira ideia seja algo 100% matemático. Mas não é bem assim. As finanças estão, sim, em foco, mas não são exclusivas. Em alguns casos, é até mais importante entender o lado comportamental de cada pessoa.

Um princípio básico é o de que o planejador financeiro, ao ter seus serviços solicitados por um cliente, possa se aprofundar nesse conhecimento. O lado comportamental, então, é fundamental – mas sem tirar, aqui, a importância da renda, do quanto se ganha e do quanto se gasta.

Há também o lado qualitativo. E aí só com muita conversa e cuidado na condução do bate-papo. O que será avaliado é o histórico da pessoa na relação com o dinheiro, na elaboração do estilo de vida, nos costumes, traumas e desejos.

Os hábitos financeiros são, muitas vezes, carregados e reproduzidos a partir daquilo que se vê na infância. Sabe aquelas discussões dos pais por causa de dinheiro? A maneira como o pai ou a mãe respondia quando você pedia algum valor? A forma como eles conversavam (ou não) sobre as finanças dentro de casa?

Tudo isso tem um impacto importante no decorrer de nossas vidas e influencia bastante na forma como cada um lida com o dinheiro na fase adulta. Tendo em vista esse fator, que varia de acordo com a realidade de cada indivíduo, o planejamento financeiro não é algo que pode ser entregue como um produto replicável e distribuído como padrão para todas as pessoas. Definitivamente não é um produto de prateleira.

Existem, é verdade, algumas práticas que podem ajudar a construir uma melhor relação com o dinheiro. Essas, sim, podem ser utilizadas por diversas pessoas. Mas, ainda assim, precisam ser adaptadas a cada realidade, a cada situação. Não é todo mundo que se dá bem com planilhas ou aplicativos de gestão financeira, por exemplo. Até mesmo as ferramentas precisam ser adaptadas a cada realidade.

A relação com o planejador financeiro vai permitir que cada pessoa receba uma entrega que seja compatível e conectada à sua realidade. Isso vai facilitar a elaboração do trabalho e permitirá um engajamento maior, o que vai produzir um resultado melhor no longo prazo.

Dentro desse trabalho, os pontos que podem e devem ser abordados vão desde a gestão financeira mensal até o planejamento sucessório. Investimentos, seguros e aposentadoria também podem fazer parte do escopo geral do trabalho.

E o grande objetivo deve ser montar um planejamento financeiro que permita viver o melhor estilo de vida possível dentro das condições de cada pessoa. O foco é esse.

Não se trata de limitar todo e qualquer tipo de gasto, de pensar somente em rentabilizar o patrimônio ou algo do tipo. A ideia é entender a realidade e chegar até aquele estilo de vida onde cada pessoa se sinta confortável. Aqui, como em todo o processo do planejamento financeiro, não há julgamento.

A intenção é permitir usufruir da renda sem deixar de manter um planejamento para o futuro. Em resumo, atingir o estilo de vida e prolongá-lo sem maiores sustos.

Raphael Carneiro é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]  

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 27 de maio de 2024

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