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Quais são os riscos e benefícios dos programas de liquidação de dívidas?

Bárbara Dacaro, CFP®, responde:

Os nomes mudam – Refis, PERT, PRT, Desenrola Brasil, entre outros –, mas os programas de liquidação de dívidas surgem sempre com o mesmo objetivo: a regularização da situação financeira e a redução do endividamento da população.

Esses vários programas, quase sempre temporários, permitem que as pessoas físicas e empresas que se enquadram no público beneficiário renegociem suas dívidas com condições facilitadas.

Os benefícios aos devedores são vários. Sem excesso de burocracias, alguns programas chegam a diminuir ou eliminar juros acumulados e multas, reduzindo consideravelmente o montante total a ser pago e tornando a dívida mais viável. Há também opções de alongamento das parcelas, adequando o valor menor da prestação à real capacidade financeira do devedor. A liquidação da dívida pode acarretar, inclusive, a reabilitação do nome no mercado, garantindo assim o acesso a futuros créditos mais facilmente e em melhores condições.

Pode-se dizer que todas essas condições facilitadas que ajudam a regularizar a situação financeira das pessoas trazem, de certa forma, conforto e alívio psicológico ao devedor devido à redução da pressão das cobranças e, como efeito dominó, promovem a saúde mental também daqueles que o cercam.

Mas, como diz o ditado, “nem tudo o que reluz é ouro”. Existem também os riscos para os devedores. Um exemplo clássico é que, mesmo reduzindo o valor das parcelas por meio do alongamento da dívida, esse longo prazo pode dificultar o planejamento financeiro pessoal do devedor, afetando sua capacidade de assumir novos compromissos financeiros até que a dívida esteja sanada.

O devedor também tem que estar atento a possíveis condições não tão favoráveis, pois certas renegociações podem incluir juros ou condições que são benéficas no momento, mas que deixam de ser vantajosas no longo prazo. Um exemplo seria uma renegociação cujo índice de referência seja o IPCA, o índice atrelado à inflação. A inflação pode estar baixa no momento da renegociação, porém, se no futuro esse índice aumentar muito, há claramente uma condição desfavorável que pode levar, inclusive, a um déficit superior ao valor inicial da dívida.

Outro ponto que deve ser levado em consideração é que algumas renegociações exigem bens como garantia e, em caso de inadimplência, essas garantias podem ser executadas, resultando na perda desses bens. Além disso, existe a possibilidade de a renegociação impactar negativamente a pontuação de crédito, trazendo condições menos favoráveis e dificultando a obtenção de novos empréstimos. 

Como pudemos pontuar, existem benefícios, mas também riscos, e o devedor deve estar atento às condições inerentes aos programas de liquidação e avaliar com cautela todas elas. Precisam ser consideradas questões pessoais que interferem diretamente na tomada de decisões, tais como condições financeiras, tempo de trabalho até a aposentadoria, familiares que dependem da sua renda, objetivos de curto e longo prazo, entre outras.

Ter um bom planejamento financeiro ajuda a criar estratégias para a redução e quitação das dívidas, proporcionando uma maior capacidade de poupar e promovendo um estilo de vida mais confortável, equilibrado e seguro, fazendo com que as pessoas desfrutem dos momentos com menos preocupações financeiras. E, se após ponderar riscos e benefícios, o devedor concluir que entrar em um programa de liquidação de dívida de fato o ajudará a trazer mais segurança financeira e melhoria da qualidade de vida, então essa é a opção mais assertiva.

Bárbara Bordon Dacaro é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected].

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.   

Texto publicado no site Época Negócios em 26 de Setembro de 2024

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