Consultório Financeiro

Qual é o melhor momento para trocar de carro?

O mais importante para decidir se você espera ou não é olhar para essa decisão no contexto maior do seu planejamento financeiro

Jaques Cohen, CFP® responde:

Caro leitor,

Obrigado pela sua pergunta. Ela pode ajudar outras pessoas que estão pensando em trocar de carro ou fazer outras aquisições em breve.

Em primeiro lugar, precisamos saber como você pagaria pelo carro. Daria uma entrada e financiaria o resto? Compraria à vista? Faria um consórcio? Pela sua pergunta, a impressão é de que a decisão é pelo financiamento.

Vamos supor que você financie R$ 50 mil por um período de três anos. Mesmo que as projeções para a taxa SELIC sejam de queda, não se espera que, no curto prazo, ela retorne ao patamar de mínima histórica, como esteve no passado recente.

Digamos, para o nosso exercício, que a SELIC possa cair 2% – as projeções do mercado não se afastam muito disso. Se essa diferença fosse repassada sobre o valor financiado, reduziria as parcelas em cerca de R$ 40, gerando uma economia de aproximadamente R$1.500 em juros nos três anos do seu financiamento.

Não é possível dizer com exatidão o quanto a SELIC deve cair e quando. Para ser mais preciso, sequer é possível dizer que ela de fato vai cair, já que em Economia sempre existe o elemento imponderável.

O mais importante para decidir se você espera ou não é olhar para essa decisão no contexto maior do seu planejamento financeiro. Alguns questionamentos são importantes aqui:

Por que você gostaria de comprar um carro? Esse carro vai gerar renda ou é destinado a lazer? A decisão de comprar pode ser revisitada? Como anda sua fotografia financeira? Você tem dívidas? Tem investimentos? Sabe o quanto ganha e o quanto gasta por mês? Tem outros objetivos que estaria adiando ao trocar de carro?

É nesse contexto que entra a sua decisão.

Se você não possui uma reserva de emergência, é sempre um bom conselho priorizar a construção de uma. Aliás, o valor das parcelas nesses seis meses que você mencionou que consegue esperar poderia ser usado para isso.

Indo além, você pode considerar até juntar dinheiro para comprar um carro à vista mais para frente. Mas, se a decisão já está tomada, é importante também refletir sobre o tipo de carro que vai comprar.

É novo? Usado? Qual a depreciação que ele deve ter nos próximos anos? Depois da COVID, muitos carros usados até subiram de preço com o tempo, mas isso está longe de ser a regra e reflete muito mais um período atípico do mercado. No início, espera-se uma depreciação em torno de 20% ao ano. Porém, esse percentual vai caindo e se torna menos relevante lá pelos seis ou sete anos de uso do veículo.

Além disso, um carro mais caro implica IPVA e seguro mais caros e isso deve estar na ponta do lápis para evitar surpresas e mal-estar financeiro.

É claro que a comodidade também conta. Ao contrário do que muitos pensam, um planejamento financeiro não é um vilão que vai te dizer para não fazer o que quer. O objetivo dele é te fazer refletir se existe algo que você queira ou precise mais e que vá te trazer mais bem-estar.

Se esse exercício já está feito e a decisão é pela troca de carro no curto prazo, reforço aqui a sugestão de construir uma reserva de emergência no período em que se dispõe a esperar. Caso já tenha uma reserva, a economia com uma possível queda da SELIC fica no patamar calculado no exercício que fizemos. Se o financiamento for maior ou menor do que R$ 50 mil, a economia será proporcional à calculada.

Jaques Cohen, CFP® é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]

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