Quanto eu devo guardar do meu salário por mês?
Luiz Correia, CFP®, responde:
Essa é uma daquelas perguntas que, ao contrário do que se possa pensar, não traz uma receita única, mas é extremamente válida no sentido de estimular a reflexão sobre um assunto tão relevante. A princípio, se você não tem nenhuma reserva financeira, qualquer valor que você conseguir guardar, faz diferença.
Tão importante quanto formar poupança é dar a esses recursos uma finalidade. Guardar dinheiro por guardar parece não ter muito sentido nem apelo, mas se você consegue enxergar um propósito nessa ação, se tem um objetivo, aquele desconforto em deixar de fazer ou comprar algo agora, pode ser substituído pela satisfação de uma conquista futura.
Antes de mais nada, não será possível saber o quanto você pode ou deve guardar da sua renda, e fazer um plano consistente de poupança ao longo do tempo, se você não se organizar. A boa notícia é que o processo para isso é muito simples e permite que você tenha controle sobre as suas finanças. Se este controle não existir, o que entra em cena são as contas mentais, e você há de convir que é um recurso não muito eficaz, pois deixa de fora muitas das despesas e prestações de dívidas que já foram contratadas.
Comece fazendo o levantamento de todas as suas despesas, exemplo: aluguel, luz, água, educação, telefone, internet, supermercado, alimentação, combustível entre outros, e de todas as dívidas, como: compras parceladas e rotativo do cartão, por exemplo.
Com essas informações, você terá a fotografia da sua vida financeira, logo, fica muito mais fácil controlar o fluxo financeiro e saber efetivamente quanto da sua renda está comprometida com despesas e dívidas, se você tem sobra ao fim de cada mês e qual a sua capacidade de poupança, ou seja, qual o valor da renda que recebemos, que conseguimos guardar e investir.
Dependendo das suas necessidades, planos e objetivos, talvez você tenha que aumentar sua capacidade de poupança, e só existem duas maneiras de fazê-lo: aumentando a renda ou cortando despesas quando possível. Com a fotografia das suas finanças em mãos, você consegue decidir quais gastos poderá eliminar, diminuir ou postergar.
Se você já consegue ter uma sobra, ótimo! Comece formando uma reserva de emergência. Com base nos dados de gastos que você levantou, separe uma reserva que cubra de seis a oito meses das suas despesas em um investimento com liquidez imediata e baixo risco, assim, em qualquer eventualidade, você não necessitará resgatar recursos que foram direcionados a outros objetivos ou recorrer a empréstimos, cheque especial ou rotativo do cartão de crédito, dívidas caras que podem comprometer a saúde financeira.
O prazo para conquista dos seus objetivos, seja ele a compra de um bem, uma viagem, um curso, vai depender da sua capacidade de poupança.
Se você deseja ter independência financeira no futuro, comece desde já a pensar no longo prazo e se planejar para o momento da aposentadoria, para que realmente seja a fase da melhor idade. Quanto antes você se estruturar para isso, separando recursos para esse objetivo, melhor. O esforço financeiro é menor, porque terá o tempo e os juros compostos a seu favor.
Como você pode perceber, a resposta para a pergunta é individual, depende da sua renda, momento de vida, estrutura familiar e objetivos. Sugerir guardar um percentual da sua renda pode ser inadequada para atingir seus objetivos, ou então, pode ser um esforço financeiro muito grande. A melhor forma é você se organizar e montar um plano para conseguir realizar suas intenções de médio e longo prazo e ao mesmo tempo ter a oportunidade desfrutar bons momentos no presente. Tomar consciência da sua realidade financeira, é o primeiro passo para a construção de uma vida financeira equilibrada, além de permitir que se possa fazer escolhas mais inteligentes que vão de encontro à realização de seus objetivos.
Luiz Correia é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Associação Brasileira de Profissionais Financeiros – Planejar. Email: [email protected]
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Texto publicado no site Época Negócios em 22 de agosto de 2017.