Quanto posso comprometer da minha renda em um empréstimo?
Hélio Fugagnoli, CFP®, responde:
Antes de se perguntar o quanto você pode comprometer da sua renda em um empréstimo, é importante refletir quais as causas que te levam a precisar do mesmo.
Empréstimos para o pagamento de dívidas com cheque especial ou rotativo de cartão de crédito, pode denunciar dificuldades em organizar um orçamento, que vão exigir ainda mais controle sobre suas receitas e despesas. Dívidas neste sentido podem ter sido adquiridas exatamente por falta planejamento e/ou de uma reserva financeira.
Por outro lado, existe o endividamento que nos permitem gerar novas receitas, seja no curto prazo, como um empréstimo para adquirir um veículo para trabalhar com transporte de pessoas ou carga, ou mesmo um outro empreendimento, seja no longo prazo, por exemplo, uma linha de financiamento estudantil.
Há ainda aqueles que podem representar um custo de oportunidade. Pessoas que possuem recursos para aquisição do bem ou serviço à vista, e também acesso a créditos com custos menores aos rendimentos de suas aplicações financeiras, como no caso de alguns financiamentos imobiliários. Elas obtêm com seus investimentos uma rentabilidade superior às despesas com juros e taxas do empréstimo ou financiamento.
As instituições financeiras consideram como referência um grau de endividamento saudável, quando as parcelas comprometidas com empréstimos equivalem até 30% da renda bruta familiar, ou quando o saldo devedor de todos os créditos tomados representa até 100% do patrimônio da família. Quando as dívidas representam mais de 50% do ganho, o caso pode ser avaliado como de superendividamento.
O fato é que, quando se necessita de um empréstimo, independente da referência do mercado, precisamos analisar primeiro a nossa capacidade de pagamento para fazer frente ao compromisso do pagamento periódico da parcela ou juntar para o pagamento único, conforme cada situação. Já me deparei com pessoas que tinham mais de 50% da renda comprometida com empréstimos que estavam financeiramente equilibradas, e outras em situação de descontrole financeiro cujo crédito equivalia a menos de 5% dos ganhos.
Uma vez conhecidas as causas do endividamento, teremos então de responder algumas perguntas. Quais são minhas receitas e despesas atuais? Há sobra ou não de dinheiro? A contratação desse empréstimo trará novas rendas? Aumentará ou criará novas despesas, além do valor da parcela?
A partir desse novo fluxo de receitas e despesas, agora considerando a possibilidade do crédito tomado, poderemos estabelecer nossa capacidade de pagamento e avaliar se serão necessárias ações para buscar reduzir despesas e/ou aumentar receitas, e que dependerá exclusivamente de cada um.
O que vale destacar é que a capacidade de endividamento de uma pessoa é exatamente a sua capacidade de poupança. Assim como se organiza um orçamento com o propósito de se contratar um empréstimo, o poupar para o futuro se dá pelo mesmo caminho. No entanto, por alguns terem urgência em adquirir determinados bens ou serviços e não se prepararem antecipadamente para tal aquisição, acabam por pagar mais caro, uma vez que pagarão juros ligados ao empréstimo.
Sendo assim, na medida do possível, deve-se adiar o consumo com o intuito de juntar o montante necessário para aquisição do bem ou serviço, buscando o investimento adequado ao seu objetivo, o que lhe proporcionará recebimento de juros e não pagamento do mesmo. Da mesma forma, o custo do empréstimo costuma ser inversamente proporcional à burocracia necessária para adquiri-lo e também às garantias atreladas a eles. Novamente, isso mostra que quanto mais preparado e planejado, menores os custos da operação.
Com essa atitude, em um primeiro momento, pode parecer que o objetivo de consumo estará longe de ser alcançado, no entanto, custará menos, pois à vista sempre há possibilidade de desconto. Ademais, parte do montante provisionado para tal, foi dado pelo rendimento do investimento.
Pouco a pouco a velocidade da condição de adquirir novos bens ou serviços irá aumentando, devido o rendimento do investimento e negociação do preço à vista, que resultarão em sobras para a próxima aquisição, exatamente o contrário de quando buscamos o endividamento para atingir nossos desejos.
Portanto, tente utilizar sua capacidade de poupança para o crescimento do seu patrimônio, utilizando a “mágica dos juros compostos” ao seu favor, evitando sempre que possível o endividamento e priorizando o investimento.
Hélio Fugagnoli Neto é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]. Colaborou Karoline Cinti, CFP®.
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Texto publicado no site Época Negócios em 05 de setembro de 2017