Riscos e vantagens do investimento em títulos públicos
“Disseram para mim que o Tesouro Direto é uma ótima opção, mas existe uma possibilidade de perder dinheiro, mesmo se tratando de renda fixa. Como isso funciona?“
Pedro Orlandi, CFP, responde:
Prezado investidor, Buscar conhecimento é o melhor que podemos fazer por nossos investimentos. Você está no caminho certo. Vamos primeiro conceituar a renda fixa. Investir em renda fixa significa emprestar dinheiro a alguém, fixando as regras do empréstimo no ato da aplicação. Essas regras definem basicamente o prazo do investimento (vencimento do título) e o seu indexador (a rentabilidade do título). Note que estamos fixando as regras, mas não necessariamente garantindo lucros.
Agora vamos analisar, como exemplo, o título prefixado 2019 (LTN), encontrado no Tesouro Direto, com vencimento em 1º de janeiro de 2019. Esse título é vendido com desconto em seu valor de face, que é de R$ 1 mil. Em 3 de novembro de 2016, esse título era vendido por R$ 790,77. A rentabilidade anual correspondente nessa mesma data era de 11,60% ao ano. Ou seja, aplicando R$ 790,77 a uma taxa de 11,60% ao ano, você receberia R$ 1 mil no vencimento dos títulos.
Por diversos fatores, as expectativas de mercado podem alterar a curva de juros, fazendo com que o mercado passe a negociar esse título com uma outra taxa de rentabilidade, por exemplo, 16%. Essa mudança afetaria o valor de mercado do seu ativo.
Veja porque: considerando o mesmo prazo de investimento e a nova taxa de juros, seriam necessários apenas R$ 728,00 para atingir os mesmos R$ 1 mil e não mais os R$ 790,77 que você aplicou inicialmente. Então, para ter de volta o seu capital antes do vencimento, você teria que estar disposto a assumir uma perda e receber menos do que investiu.
Repare que um movimento contrário, de redução na curva de juros, resultaria em uma valorização do seu título e você teria um ganho acima do projetado em caso de uma venda antecipada.
Esse exemplo reflete o comportamento do título Tesouro Prefixado e Tesouro Prefixado com juros semestrais. Um comportamento muito parecido deve ser esperado para o título Tesouro IPCA+ (NTN-B) e Tesouro IPCA+ com juros semestrais (NTN-B).
O título Tesouro IPCA+ rende a inflação medida pelo índice IPCA e mais uma rentabilidade definida, por exemplo, 5%. Esse título também sofrerá as oscilações no preço de mercado, mas, uma vez carregado até o seu vencimento, garantirá uma rentabilidade acima da inflação, que em geral é o principal objetivo do investidor no longo prazo.
Apesar de não ser imune às mudanças da economia, o título Tesouro Selic (LFT) é pós-fixado e acompanha a taxa básica de juros, o que reduz bastante a flutuação de seu valor de mercado. Outro risco que existe é o de crédito. Sempre que emprestamos dinheiro a alguém, estamos correndo o risco de não receber os recursos de volta. Entretanto, no caso do Tesouro Nacional, podemos considerar que se trata do menor risco de crédito do mercado.
Tenha sempre muito claro o objetivo do seu investimento, antes de escolher onde aplicar o seu dinheiro e lembre-se que não existe “o melhor investimento”, o que existem são investimentos mais adequados para diferentes objetivos. Avalie a possibilidade de um planejamento financeiro de longo prazo, que contemple seu fluxo de caixa, projetos de consumo, um horizonte de aposentadoria ou independência financeira e gestão de riscos, dentre outros assuntos.
Caso entenda ser necessário, busque a ajuda de um planejador financeiro.
Pedro Orlandi é planejador financeiro pessoal e possui certificação CFP (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]
Texto publicado no jornal Valor Econômico em 30 de novembro de 2016.