Consultório Financeiro

Seguro automotivo: faz sentido se custa quase 10% do valor do veículo?


É preciso identificar todos os pontos de risco e adaptar o seguro para que você escolha aquele que cabe no seu orçamento

Felipe Araújo CFP® responde:

Caro Leitor,

   Respondendo diretamente a sua pergunta: na média, está caro! Mas o que importa mesmo é que você termine de ler entendendo o que é essa “média” e o conceito de caro e barato para seguros. Vamos lá?

Segundo dados do documento “Síntese Mensal dezembro 2022”, disponível no site da Susep (Superintendência de seguros privados – susep.gov.br), a arrecadação de prêmios do setor auto atingiu R$ 51 bilhões em 2022, valor que corresponde a quase 33% a mais que o arrecadado no ano anterior. Essa arrecadação vem da média de valor cobrado como prêmio de um seguro de automóvel, que está na faixa de 4% a 6% do valor da Tabela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – fipe.org.br). Por aqui, já é possível identificar que existe uma média de valor cobrado pelo setor.

Também é preciso entender um movimento recente que aconteceu. No início da pandemia até houve uma redução nos preços dos seguros, pois havia menos carros nas ruas, menos colisões, menos roubos, menos sinistros. Porém, vivenciamos um período em que faltaram peças, chips, semicondutores para a indústria automotiva, e os preços dos carros novos e usados dispararam. Aumentou-se consideravelmente o risco das seguradoras e ninguém esperava que carros usados fossem se valorizar tanto. Como a cotação do seguro é uma porcentagem do valor do bem, acabou que parte do aumento sentido até hoje nos seguros de automóveis vai direto para pagar essa conta.

Um seguro de automóvel é precificado com base na sua sinistralidade, que, resumidamente, é uma probabilidade do quanto aquele seguro poderá vir a ser acionado. Ao se falar de seguro de carro, normalmente são considerados apenas roubo ou perda total como sinistros, porém um simples acionamento da franquia para cobrir uma lanterna quebrada ou guincho já entra nessa conta. A sinistralidade no seguro auto ficou em 61,1% em dezembro de 2022.

  Dentro do escopo do trabalho de um planejador financeiro, fica clara a importância dos seguros na construção, manutenção e perpetuidade de patrimônio. Dessa forma, é preciso identificar todos os pontos de risco e adaptar o seguro para que você escolha aquele que cabe no seu orçamento. Seguem algumas dicas importantes para que você possa reduzir (e muito) o preço do seguro na hora de fazer uma cotação:

1) informar corretamente os CEPs residencial e do trabalho;

2) informar se o carro fica em garagem coberta;

3) definir se realmente você precisa ter um segundo condutor

 (principalmente jovem);

4) você não precisa de serviço ilimitado de guincho;

5) nem de acionamento ilimitado de pane elétrica;

6) pedir indenização de danos equivalente a 90%, e não 100% da Tabela Fipe;

7) aumentar o valor da franquia (para quem tem reserva de emergência);

8) na era dos carros por aplicativo, carro reserva é dispensável.

Agora que passamos por pontos-chave para finalmente responder por completo a sua pergunta, você ainda acha que quase 10% do valor do veículo está caro? Ou está barato? Como o planejamento financeiro é sempre individualizado, a resposta é: depende!

Depende porque pode ser que o seu seguro esteja acima da média pelo simples fato de que, no último ano, você utilizou a franquia ou teve um sinistro de grande porte. Depende porque você não conhecia ou não aplicou nenhuma dessas dicas e simplesmente pediu uma cotação para ver o preço. Se no seu planejamento cabe o custo de um seguro bem orçado, com foco no seu objetivo, por favor, faça-o.

Depois deste pequeno guia de bolso, lembre-se que da mesma forma que você não quer pagar caro, do outro lado tem uma seguradora que tem métricas de precificação de riscos e quer assumir o mínimo. Que tal transferir para ela apenas os riscos que não temos capacidade de assumir?

Felipe Araújo é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. Email: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]


Texto publicado no jornal Valor Econômico em 26 de Junho de 2023.

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