Investir dinheiro destinado a um plano de saúde, é uma boa?
“Tenho 32 anos, sou solteiro, saudável. Sabemos que no Brasil não podemos contar de forma integral e tranquila com o Sistema Único de Saúde (SUS). Dessa forma, temos que almejar outros meios, como os planos de saúde privados que, em sua maioria, são dispendiosos. Minha dúvida é se seria melhor adquirir um plano de saúde ou investir o valor desse plano, por exemplo, em um colchão de liquidez e usá-lo caso seja necessário.“
Emanuella Gomes Xavier, CFP, responde:
Caro leitor, agradeço pela oportunidade de abordar esse tema. O seu questionamento é muito comum para pessoas com perfil parecido ao seu: jovem, saudável e com gastos esporádicos com saúde. Primeiramente, vamos lembrar a função dos itens considerados:
O plano de saúde privado oferece assistência médica ao custo de uma mensalidade. A partir da adesão, o titular está coberto para procedimentos médicos ou ambulatoriais que necessite, desde que estejam dentro das coberturas exigidas pela ANS (Agência Nacional de Saúde), dos limites de cobertura e carências específicas de cada contrato. Assim como qualquer outro seguro, o risco é pagar sem utilizar.
Já os investimentos, apesar desta não ser sua única finalidade, neste contexto poderiam servir como uma reserva para emergências de saúde. Mas, por ser finito, esse montante poderia ser insuficiente para imprevistos maiores. Se for realizada em grupo para mitigar os custos e riscos, essa reserva pode ser válida, mas isso é exatamente o que, na prática, as seguradoras fazem.
Logo, caso considere apenas serviços médicos de rotina (check-up, exames, consultas), provavelmente o investimento faria mais sentido. Mas não podemos deixar de considerar a hipótese de num curto período de tempo, insuficiente para acumular uma reserva razoável, acontecer algum acidente ou doença grave. Nesse momento, quando o dinheiro deve ser a última das preocupações, o risco é contar com um atendimento não desejado pelo SUS ou se endividar, gerando uma catástrofe financeira.
Aqui nos deparamos com um dos desafios de todo planejador financeiro: salvaguardar os clientes de situações que possam desestabilizar o seu equilíbrio financeiro.
Embora as seguradoras trabalhem com estatísticas de ter maiores recebimentos que gastos, não aconselho o leitor a “apostar” nessas mesmas probabilidades. O custo de estar errado é muito elevado.
Deixemos então essas análises de lado, para buscar o aumento do patrimônio via investimentos, que devem ser feitos com o que exceder o seu orçamento mensal. E para garantir a sua segurança financeira sem despender tanto, sugiro procurar um plano com bom custo benefício.
Caso acredite que não fará uso do plano completo (mensalidade fixa), você pode ter uma relativa economia com os planos coparticipativos, em que a mensalidade é aproximadamente 20% menor, mas cada serviço gera um custo adicional (entre 10% a 30% do custo da tabela-base do plano).
Existem também planos que cobrem apenas exames e internações (rede credenciada), deixando consultas e, em alguns casos, o pronto atendimento de fora da cobertura.
Outras opções são os planos coletivos empresariais (para pessoas de uma mesma empresa) ou por adesão (de acordo com a profissão/área de atuação, vinculadas a entidade de classe ou instituição que as representa). Estes, porém, não têm renovação garantida por lei como os individuais, o que dá direito à seguradora de interromper o contrato, podendo deixar os segurados descobertos e com a necessidade de cumprir novas carências na contratação de novos planos.
Emanuella Gomes Xavier é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF) E-mail: [email protected]
Texto publicado no jornal Valor Econômico em 07 de novembro de 2016.