Taxa Selic baixa: saiba onde investir com segurança
“Com a Selic a 2,00%, onde investir com segurança?”
Diana Benfatti, CFP®, responde:
A reflexão sobre os fundamentos de uma carteira de investimentos adequada ao investidor é essencial.
Investir é deixar de usar recursos financeiros no presente para usá-los no futuro – contando, em troca dessa espera, com o recebimento de juros ou com a valorização dos ativos comprados – assumindo, para isso, vários tipos de riscos a depender de cada ativo.
Buscamos financiar nossos planos e nos resguardar do que não controlamos, portanto, o nível de liquidez e o horizonte de prazo de cada investimento são aspectos essenciais que guiam a composição da carteira para que ela cumpra sua função.
E o nível de risco? Deve estar alinhado ao nível de tolerância ao risco do investidor, que é composto pela disposição psicológica de suportar oscilações de preços ou perda de capital juntamente com a capacidade estrutural de tolerá-las. Esta última é constituída por vários fatores: estrutura familiar e dependentes; capacidade de geração de caixa; momento do ciclo de vida; estrutura patrimonial; aspectos profissionais; estrutura de proteção a riscos pessoais e patrimoniais etc.
A definição de “onde investir” (que tipos ou quais ativos comprar) é parte da estratégia de investimentos, que quando bem estruturada baseia-se intimamente nos aspectos pessoais de quem está investindo. Portanto, a estratégia não mudará porque as condições de mercado estão diferentes de quando foi traçada, uma vez que as necessidades de vida do investidor são a sua base. Já a consideração do preço dos ativos na execução da estratégia faz parte das perspectivas táticas de “quando” e “como” implementá-la.
O objetivo de investir com segurança pode vir ao encontro da necessidade de liquidez e/ou de um perfil de baixa tolerância ao risco do investidor. Para analisar alternativas que satisfaçam essas necessidades, é preciso considerar os conceitos de risco de crédito (o risco de que os recursos não sejam devolvidos ao credor), risco de mercado (o risco de oscilação de preço ao longo da vida do ativo) e grau de liquidez (disponibilidade para venda ou resgate) do investimento.
Para satisfazer a necessidade de liquidez imediata, com a prerrogativa da possibilidade de resgate a qualquer momento, limitamos os indexadores do investimento àqueles que o remuneram diariamente, a preço de mercado: CDI ou Selic. Satisfazendo também o quesito baixo risco de crédito, ficamos com as opções dos títulos do Tesouro Nacional indexados à Selic e títulos bancários de primeira linha indexados ao CDI, com liquidez diária. Portanto, com a Selic baixa ou alta, mantemos a estratégia adequada ao objetivo.
Como alternativa mais eficiente para investir em Tesouro Selic, há Fundos de Renda Fixa da categoria Simples que mantêm 100% do seu patrimônio concentrado nesse título, sendo que alguns não cobram taxa de administração. Trata-se de um instrumento acessível para investir com segurança em substituição ao Tesouro Direto, cuja taxa de custódia cobrada pela B3 pode ser custosa, considerando o atual nível da taxa básica de juros (com exceção de volumes de até R$ 10 mil, em que há isenção dessa cobrança para o título Tesouro Selic).
Ainda satisfazendo o objetivo de investir com segurança, mas sem necessidade de liquidez imediata, há mais alternativas. Podemos abrir mão do baixíssimo risco de mercado e considerar mais indexadores, como taxa pré-fixada e inflação, mantendo ainda a prerrogativa do baixo risco de crédito.
Caso seja possível determinar o prazo específico para resgate do investimento, há títulos de instituições financeiras sem liquidez que se aproveitam da inclinação positiva das curvas de juros, pagando taxas maiores por prazos mais longos. É importante avaliar o risco de crédito de cada instituição individualmente e lembrar que o FGC mitiga esse risco, mas tem suas limitações e não cobre o risco sistêmico.
O Tesouro Nacional tem o menor risco de crédito do mercado e títulos pré-fixados e indexados à inflação para diversos prazos. No entanto, esses ativos são precificados a preço de mercado, podendo gerar lucro ou prejuízo quando vendidos antes do vencimento (por conta da marcação a mercado). Se carregados até o vencimento, esse risco é anulado.
O mercado de crédito privado é um mundo a ser explorado dentro ou fora de fundos de investimentos. No entanto, requer muita cautela, pois o risco de crédito varia bastante a depender do ativo. A marcação a mercado recai sobre o indexador que remunera os títulos e sobre a variação da avaliação do risco de crédito do emissor. Há também o risco de liquidez, que varia conforme cada ativo e pode ser importante.
A ajuda de um profissional de serviços de investimentos autorizado pode ser muito bem-vinda para guiar as escolhas do investidor.
Diana Benfatti é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no site Época Negócios em 01 de setembro de 2020.