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Trauma financeiro: o que é e como lidar com isso?

Stefano Wigner, CFP®, responde:

O trauma financeiro é uma realidade que afeta muitos brasileiros, principalmente em momentos de crise econômica ou imprevistos. Ele se refere ao impacto psicológico e emocional causado por alguma experiência negativa envolvendo as finanças pessoais. Os exemplos mais comuns de dificuldades financeiras são a perda de um emprego, uma dívida inesperada ou a constatação de que as reservas para a aposentadoria são insuficientes para a manutenção do padrão de vida. Uma pesquisa da Federação Brasileira dos Bancos sobre saúde financeira revelou que uma parcela significativa da população brasileira vive essa realidade. Segundo ela, cerca de 34% dos brasileiros gastam mais do que ganham, cerca de apenas 19% seriam capazes de cobrir uma despesa grande e inesperada, e a insegurança sobre o futuro financeiro atinge mais de 39% dos brasileiros​​.

O trauma financeiro pode levar a um ciclo de estresse e ansiedade. Por isso, precisamos estar atentos a sinais de alerta que evidenciem a sua presença. Geralmente, os sinais aparecem frente a situações de comportamento extremo em relação ao dinheiro, como ser avarento e controlador com qualquer gasto, ou até mesmo o oposto, quando a pessoa gasta dinheiro de forma excessiva e descontrolada. O processo de nos tornarmos conscientes emocionalmente acerca da nossa relação com o dinheiro é muito importante. Nesse sentido, é preciso entender que as nossas decisões financeiras são frequentemente guiadas por fatores psicológicos e comportamentais, não apenas por lógica ou cálculo matemático.

Para lidar eficazmente com o trauma financeiro, é crucial adotar uma abordagem que envolva educação financeira e planejamento financeiro. A educação financeira é a chave para entender melhor como se relacionar com o dinheiro. Ela capacita os indivíduos a tomar decisões informadas sobre economia, investimentos e uso do crédito, além de ajudá-los a evitar fraudes e armadilhas, contribuindo assim para a redução do endividamento e do estresse financeiro. Com conhecimentos financeiros, as pessoas podem aprender a estabelecer orçamentos realistas, identificar estratégias para economizar e entender os riscos e benefícios de diferentes opções de investimento.

O planejamento financeiro, por sua vez, é fundamental para estabelecer um caminho claro em direção à estabilidade financeira. Isso inclui a criação de um orçamento detalhado, que permita identificar áreas onde é possível economizar e realocar recursos. Também é preciso entender que você deve ter uma reserva de emergência e seguros que protejam a sua saúde financeira frente a imprevistos, evitando o surgimento de novos traumas. No que tange ao longo prazo, o planejamento financeiro bem construído inclui estratégias para a construção de reservas que o ajudem nos seus projetos de vida e a conquistar os seus sonhos.

Por fim, um aspecto muitas vezes negligenciado no processo de recuperação do trauma financeiro é o apoio emocional e psicológico de um ou mais profissionais. É importante reconhecer que o trauma financeiro pode ter um impacto significativo no bem-estar emocional, e que buscar apoio de especialistas pode ser necessário para guiar você nesse processo. Para tanto, se certifique de que o especialista procurado seja alguém devidamente capacitado. Aqui no Brasil, a Planejar certifica planejadores financeiros que têm capacidade técnica para lidar com essas e outras questões atreladas a finanças pessoais.

Stefano Wigner Tremea é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]

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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 18 de Março de 2024

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