Seu Planejamento Financeiro

Vale a pena adiar o pagamento de dívida durante a crise?

Os bancos estão permitindo que eu atrase a parcela do empréstimo durante a crise. Vale a pena aproveitar e deixar para pagar depois?

Carlos Castro, CFP®, responde:

Toda medida que vai ao encontro de dar um alívio no orçamento doméstico é bem-vinda. A possibilidade do adiamento do pagamento de dívidas, a ser negociado com os bancos, só deveria ser considerada se não houvesse acréscimo de juros e depois de esgotadas outras alternativas. É bom comentar também que nem toda dívida é ruim, mas deve-se evitar fazer dívida para financiar o consumo como gastos com alimentação. Na necessidade de se fazer uma dívida, deve-se priorizar aquelas que constroem patrimônio como, por exemplo, o financiamento de um imóvel.

Em qualquer cenário de incerteza precisamos ter recursos financeiros disponíveis, chamamos de liquidez, para fazer frente às nossas despesas. Temos uma crise econômica global desencadeada pela necessidade eminente de combate ao coronavírus e sem a certeza de quando terminará. E sabemos que nem todo mundo tem reservas financeiras suficientes para sustentar este momento de redução ou perda da renda do trabalho.

Dentre as várias medidas extraordinárias disponibilizadas para ajudar as famílias na organização de suas finanças pessoais para atravessar esta crise temporária, está a possibilidade de adiar o pagamento das parcelas de dívidas por 60 dias. Segundo a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) qualquer dívida pode ser pausada exceto as dívidas do cheque especial e do cartão de crédito que têm regras específicas de renegociação de pagamento. É condição necessária estar adimplente, ou seja, é preciso estar em dia com o pagamento das prestações.

Não há um padrão de tratativas entre os bancos para o adiamento de dívidas. Ao ligar para pedir a pausa de pagamento das prestações, verifique as condições oferecidas. Há bancos que estão fazendo a renegociação do contrato e ajustando as parcelas com juros. Os juros do crédito no Brasil são muito elevados e devem ser evitados. Se o adiamento das parcelas incorrer em pagamento de juros, esta decisão deverá ser a última opção.

Antes de assumir como necessária a postergação do pagamento de seus empréstimos, comece fazendo um levantamento de todas as suas despesas atuais. Primeiramente verifique que mudanças você pode fazer em seu padrão de gastos para otimizar seu orçamento doméstico. O isolamento social altera o nosso fluxo de caixa. Se por um lado podemos reduzir custos com transportes, por outro lado pode haver aumento de gastos com moradia. Além disto, com o uso mais intensivo da Internet, podemos também encontrar alternativas de geração de renda adicional. Portanto o primeiro passo é colocar as receitas e as despesas na ponta do lápis!

Depois verifique se os juros de suas dívidas atuais podem ser reduzidos. Juros de um empréstimo bancário e do crédito consignado, por exemplo, são bem menores que os juros pagos no cartão de crédito e no cheque especial. Você pode fazer trocas de dívidas mais caras por dívidas mais baratas. Há também a opção de portabilidade de um financiamento imobiliário para reduzir o valor da prestação.

Por último, se depois de tomadas todas as medidas de racionalização, ainda assim o saldo do fluxo de caixa não estiver positivo, faça uso da reserva financeira para complementar seu orçamento caso a tenha. Mesmo que ao final o adiamento das dívidas seja uma medida necessária, seguir os passos da racionalização e fazer o planejamento financeiro são inevitáveis para identificar soluções ao paliativo de 60 dias. Racionalizar significa fazer uso racional dos recursos financeiros disponíveis para equilibrar receitas e despesas e manter a sustentabilidade de um padrão de vida desejável.

Muitos de nós estamos consertando o telhado de nossas finanças pessoais durante uma tempestade que nos pegou de surpresa. Em algum momento a chuva diminuirá. Talvez a força do impacto desta tempestade resultasse mesmo em alguma medida corretiva adicional como postergar o pagamento de uma dívida para liberar mais dinheiro no orçamento agora. Mas daqui para frente é sempre bom lembrar de fazer uso preventivo do planejamento financeiro para reparar o telhado enquanto o sol estiver brilhando.

Carlos Castro é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

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Texto publicado no site Época Negócios em 21 de abril de 2020.

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