Vale a pena investir em uma previdência privada de banco para aqueles que já possuem fundo de pensão pela empresa?
Sergio K. Leão, CFP®, responde:
Para responder a essa pergunta, é importante entender alguns conceitos.
O primeiro deles é o de que a Previdência Privada é um veículo de investimento de longo prazo, que pode trazer uma série de benefícios tributários e sucessórios ao longo do tempo, e que é, com certa frequência, relacionado à aposentadoria.
Contudo, isso não significa que, por ser um veículo de longo prazo, a previdência privada deve, obrigatoriamente, se ater à etapa de aposentadoria. Ela pode ser utilizada para quaisquer objetivos em que os prazos superem um horizonte de 10 anos, para que possa ser aproveitado, ao máximo, o seguinte objetivo: a menor alíquota de Imposto de Renda, podendo chegar à 10%, frente ao tradicional 15% de alíquota mínima de grande parte dos demais investimentos disponíveis.
Outro ponto importante de se atentar, sobretudo quanto às previdências privadas que as empresas oferecem aos colaboradores, é que estas são, majoritariamente, no modelo PGBL. Nesse modelo, o investidor tem um benefício de abatimento de até 12% da Receita Tributável Anual, ou seja, impacta diretamente em uma redução de imposto devido e que eventualmente foi pago ao longo do ano, resultando em um menor pagamento de imposto, ou aumento de restituição.
Porém, nem sempre o valor permitido de contribuição via empresa alcança esse teto dos 12%, havendo margem de complemento para um máximo aproveitamento do benefício oferecido por parte do governo. Sendo assim, existe a possibilidade de o investidor fazer aportes extras em outras previdências.
Existem três principais opções disponíveis para a distribuição de previdências privadas: veiculadas através de canais bancários, veiculadas através das corretoras de valores e veiculadas diretamente das seguradoras. Como o segundo e o terceiro modelo são menos divulgados, o investidor pode ser levado à impressão de que apenas os bancos fazem a distribuição desse tipo de investimento.
Independentemente da escolha, vale o reforço de que todas as opções são reguladas pelo mesmo órgão regulador, a SUSEP (Superintendência de Seguros Privados). Ainda assim, se faz importante a escolha da instituição. Isso porque, apesar da regulação do mercado funcionar e existir para a redução dos riscos envolvidos, em um cenário de eventual insolvência e/ou falência da seguradora, não existe garantia sobre os valores lá presentes, como também não existe, caso esteja em momento de recebimento de benefícios, garantia sobre a continuidade dos recebimentos.
Quando o assunto é a alocação, nem todas as opções são conservadoras.
O mercado de previdência privada vem evoluindo muito nos últimos anos, e muitos dos distribuidores disponíveis no mercado têm apresentado excelentes opções para os investidores dos mais diversos perfis.
Assim, pode fazer total sentido realizar aportes extras, seja para complementar uma estratégia de eficiência tributária, seja para alcançar os valores necessários para uma aposentadoria confortável e sustentável ao longo do tempo. E essa contribuição pode fazer sentido independentemente de qual seja o tipo de instituição utilizada em sua escolha, entre as opções aqui abordadas.
Por fim, é importante avaliar os custos, uma vez que quanto menor for o custo para um mesmo perfil de alocação (seja em um mesmo ativo, ou equivalente entre diferentes fornecedores), melhor para o investidor.
Como abordado anteriormente, a alocação através de um veículo previdenciário tem, por tendência, um padrão de longo prazo. Assim, quando existe um custo maior sendo pago pelo investidor, há impacto direto no saldo final, e, quando observado um horizonte de 15, 20, 30 ou 40 anos, o impacto pode ser grande no final das contas.
Ou seja, se fazem importantes quatro estudos: sobre os valores a serem aportados, sobre a qualidade das opções disponíveis em cada instituição fornecedora que o investidor prefira, sobre o histórico e reputação da instituição e sobre os custos dos produtos.
Só depois dessas avaliações o investidor deve “bater o martelo” sobre sua escolha. Caso não tenha o conhecimento necessário para tal tomada de decisão, pode ser interessante a busca por suporte profissional, se possível, que atue de forma independente e seja certificado, o que possibilitará uma análise imparcial e transparente, sem que haja vínculo e/ou viés institucional, mostrando todos os prós e contras de cada opção, adequando a alocação ao seu perfil de risco, aos valores de aporte e seu horizonte de investimento.
Sergio K. Leão é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no site Época Negócios em 12 de dezembro de 2023