Vale a pena investir na bolsa nacional?
Dizem que o Brasil é o país da renda fixa, com os maiores juros reais do mundo. Vale a pena investir na bolsa aqui?
Daniel Gama, CFP®, responde:
Primeiramente devemos sempre ter em mente que nenhum tipo de investimento pode ser considerado como destino universal de recursos. É preciso avaliar cada investimento de acordo com o perfil do investidor, considerando não somente sua tolerância ao risco como também sua capacidade, a qual engloba diversas variáveis como objetivos, prazos, necessidades e familiaridade.
Além dos riscos específicos de cada empresa investida, deve-se sempre ser levado em consideração o risco sistemático, aquele inerente ao mercado em si e suas características macroeconômicas como um todo.
Superada a fase de avaliação, cabe contextualizar o atual cenário dos juros reais no Brasil. Levando-se em conta que o conceito de juros reais nos remete àqueles juros considerados acima da inflação, a primeira resposta é Sim, realmente o Brasil hoje está entre os países com os maiores juros reais do mundo.
Em outras palavras, apesar dos constantes cortes nos juros nominais, essas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) ainda não foram suficientes para rebaixar os juros aos patamares da inflação projetada, de forma que os investimentos em renda fixa realmente ainda permanecem eminentemente atrativos aos olhos do investidor.
Tal situação tem entre suas principais causas o período de recessão atravessado pelo Brasil na crise recente, o que impediu sobremaneira o aumento do consumo, mesmo com as propagadas reduções das taxas de juros. Ou seja, o brasileiro, diretamente alvejado pela crise econômica, não se viu em condições de aproveitar a queda dos juros para ir às compras. E sem o consumo, a inflação permanece em níveis reduzidos o bastante para que os juros reais ainda sejam considerados atrativos para investidores de renda fixa.
No entanto, é importantíssimo mencionar que essa conjuntura econômica vem mudando gradualmente com o passar dos anos. O Brasil já deixou de ser o campeão do ranking de juros reais do mundo, caindo da primeira posição em 2015 para a terceira posição neste último ano de 2017. Sendo assim, cada vez mais, o país vem deixando o status de “paraíso da renda fixa”. E, consequentemente, novas formas de investimentos certamente passarão a ganhar força no Brasil.
Nesse contexto, a bolsa de valores surge como uma destacada opção de investimento. O mercado de capitais brasileiro, muito embora ainda seja considerado limitado frente ao norte-americano, por exemplo, vem ganhando relevante intensidade, crescendo 43% em 2016 e outros 21% no último ano de 2017, segundo estatísticas do histórico de evolução diária disponíveis no site da b3 (antiga BM&FBovespa).
Dessa forma, por todo o exposto, pode-se depreender que o investidor que se enquadrar no perfil adequado pode cogitar o investimento em ativos de renda variável, já que tais inclusões em uma carteira de investimentos têm o condão de introduzir a diversificação, considerada pela teoria econômica como forma mais eficiente de redução de risco com manutenção do retorno esperado.
Nunca é demais lembrar que atualmente a bolsa de valores no Brasil se encontra em seu topo histórico, ratificando o otimismo eufórico com as perspectivas da renda variável e confirmando o incremento do interesse do investidor nessa opção de investimento.
Em resumo, não obstante a consagrada preferência do investidor brasileiro pelo conservadorismo da renda fixa, não restam dúvidas de que o mercado de capitais nacional dispõe de condições favoráveis para decolar no longo prazo.
Não somente pela possibilidade de diversificação, mas também pelas condições que compõem o atual cenário macroeconômico, a B3 dispõe das variáveis necessárias para vir a ser o destino preferido do capital de muitos investidores.
Daniel Gama é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. Email: [email protected].
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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 02 de abril de 2018