Vale vender meu apartamento financiado e morar de aluguel?
“Possuo um imóvel financiado pelo qual pago por volta de R$ 2.700 de prestação numa taxa de 9,8% e vivo uma vida financeiramente não muito confortável. O valor do imóvel é de cerca de R$ 400.000,00. Se eu vender, teria cerca de R$ 165.000,00 a receber. Estou pensando em vender esse imóvel, aplicar o dinheiro em algum fundo, tal como LCI, e morar de aluguel. Considero um custo de aluguel + condomínio de R$ 2.000,00 – sendo que hoje tenho um custo de mais ou menos R$ 3.300,00, considerando financiamento + condomínio.”
Carolina Noronha, CFP®, responde:
Primeiramente, gostaria de alertar a importância do planejamento financeiro antes de contrair dívidas longas como um crédito imobiliário. Promoções e ofertas tentadoras podem nos levar a armadilhas que podem nos gerar situações nas quais teremos de nos desfazer de bens para liquidar nossas dívidas.
A dívida de um crédito imobiliário sempre assusta quando passamos por momentos financeiros delicados. Uma alternativa é ir até o seu banco e tentar uma renegociação da taxa do crédito imobiliário. Caso não consiga, pode fazer a cotação da redução da taxa em outros bancos; os bancos, em geral, oferecem boas condições para os clientes que transferem seus créditos imobiliários. Assim, você conseguirá reduzir o valor da sua parcela e consequentemente ter um maior conforto na sua vida financeira, pagando por um imóvel que será completamente seu no futuro. As renegociações são muito comuns e a possibilidade de transferência do crédito traz para o cliente final a possibilidade de optar pela melhor alternativa dentro do mercado financeiro.
Além da negociação com o banco, uma alternativa que pode lhe trazer mais conforto é a utilização do FGTS para liquidar parte da dívida, podendo optar por reduzir o valor da parcela paga, o que aliviaria nas contas domésticas. O FGTS para liquidar parte da dívida imobiliária pode ser utilizado a cada dois anos e, assim, pode-se reduzir gradualmente o valor das parcelas. Ele só pode ser utilizado para dívidas de imóveis financiados pelo SFH (Sistema Financeiro de Habitação).
Importante ressaltar que a dívida do crédito imobiliário pode ser considerada uma dívida boa, desde que bem administrada, uma vez que se pode ter acesso às menores taxas de juros disponíveis no mercado, diferentemente de dívidas como cheque especial ou/e cartão de crédito. Estas últimas duas mencionadas possuem juros altíssimos e entrar nesse tipo de dívida pode acabar com o patrimônio pessoal.
A possibilidade de venda do imóvel traz um conforto momentâneo na sua vida financeira, mas precisa ser consciente, de forma que o valor que sobre seja investido para uma conquista futura. A troca do imóvel próprio por um de aluguel trará um conforto momentâneo com a diminuição do custo fixo mensal, mas, se não houver um novo planejamento, pode não solucionar a questão.
Entretanto, após uma forte desvalorização do mercado imobiliário nos últimos 4 anos, no ano de 2017 e início deste ano, nota-se uma retomada deste mercado, que no médio prazo pode trazer a valorização do seu imóvel que, se vendido neste momento, pode não valer o preço correto. A estagnação do mercado imobiliário fez com que não houvesse novos lançamentos, de forma que os estoques hoje estejam baixos, o que no curto prazo pode trazer a valorização dos aluguéis – o reajuste pode vir acima da inflação corrente, o que também pode lhe trazer dificuldade financeira futura e, assim, pode voltar a mesma dificuldade.
Caso o investidor opte pela venda do imóvel, a opção de investimentos em produtos atrativos pode ser interessante, desde que feito de forma estruturada e orientada. Um planejamento financeiro acompanhado de um Planejador Financeiro Profissional pode te ajudar a escolher os melhores investimentos programando decisões futuras e lhe trazer rendimentos considerados mais adequados ao seu perfil e às suas necessidades, montando uma carteira adequada.
A alocação dos valores em investimentos que contemplem não só taxa de juros como também inflação, renda fixa e outros investimentos pode melhorar a rentabilidade da carteira como um todo. Isso pode ser melhor do que concentrar todo o montante em um único tipo de investimento. A LCI (Letra de Crédito Imobiliário) mencionada torna-se um investimento interessante pois tem isenção do imposto de renda sobre a rentabilidade, mas as taxas podem não ser tão atrativas devido às baixas taxas de juros no mercado hoje. A LCI deve ser usada com limite dentro de uma carteira de investimentos, diversificando entre fundos, títulos e outros que melhorariam a rentabilidade da carteira de alocados juntos, onde um complementaria o outro.
Portanto, antes de se desfazer do imóvel, é importante fazer um planejamento financeiro para tentar reduzir algum custo supérfluo que pode aliviar os gastos mensais. Também não deixe de consultar a instituição financeira na qual possui o crédito imobiliário para tentar renegociar as taxas de juros para o crédito imobiliário. Caso ainda assim não seja suficiente, refaça o Planejamento Financeiro para tomar a melhor decisão, de forma que com a venda do imóvel você possa avaliar entre aplicar o valor remanescente de modo que rentabilize mais do que a inflação, ou seja, que se tenha um ganho real no rendimento e se torne reserva financeira para emergências ou realizações de sonhos, ou até mesmo considerar a possibilidade de compra de um imóvel de menor valor, com uma parcela que se adeque melhor ao orçamento pessoal.
Carolina Noronha é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].
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Texto publicado no site Época Negócios em 09 de outubro de 2018