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Você ficou mais rico ou mais pobre em 2021?

Marcia Dessen, CFP®:

Será que estamos criando riqueza com o nível de ganhos e gastos que mantemos ao longo da vida? Essa é uma reflexão importante que revela o que fizemos com o dinheiro que ganhamos, se estamos ficando mais ricos ou mais pobres e se estamos poupando o suficiente para garantir o padrão de vida no futuro.

A declaração anual do imposto de renda, embora seja trabalhosa e chata, é valiosa para analisarmos nossas finanças e ajuda a responder a pergunta. Basta dedicarmos a ela um olhar diferente, muito além da mera obrigação de prestar contas à Receita Federal, tentando entender não os números em si, mas o que eles revelam.

Uma leitura interessante é observar quais são as nossas fontes de renda. No início da fase adulta é natural que toda a renda seja proveniente do trabalho. Entretanto, a partir de certa idade, é desejável que tenhamos outras fontes de renda, como imóveis alugados e títulos que pagam juros ou dividendos, além de ativos com potencial de valorização que podem ser vendidos e transformados em renda.

NOSSA RIQUEZA

Na ficha de bens e direitos estão listados os bens móveis e imóveis, o imóvel residencial, outros imóveis, veículos, aplicações financeiras. Dedicar um bom olhar a essa lista nos permite avaliar quanto do nosso patrimônio está constituído por ativos com potencial de valorização e quanto está alocado em ativos que se depreciam ao longo do tempo, como veículos e imóveis antigos ou desocupados.

Imóveis de uso familiar, como o residencial, e veículos, não geram renda, só despesas, e embora sejam conquistas importantes, o ideal é que representem apenas parte do patrimônio total. Investir em ativos que geram renda é uma excelente estratégia para conquistar a independência financeira.

EVOLUÇÃO PATRIMONIAL

Quanto você tinha no ano anterior e quanto tem agora? A resposta a essa pergunta deixa claro quanto de sua renda foi destinada à formação de patrimônio. Se a variação foi negativa ou neutra significa que você gastou praticamente tudo o que ganhou.

Antônio, por exemplo, teve rendimentos de R$ 160 mil provenientes de trabalho e de aplicações financeiras. O total de bens e direitos que detinha em 31 de dezembro do exercício anterior era R$ 640 mil contra R$ 600 mil no atual exercício. Significa que ele gastou toda a sua renda e destruiu R$ 40 mil do patrimônio acumulado em anos anteriores.

Se você se encontra em situação semelhante à de Antônio, avalie se o fato reflete decisões que foram conscientemente tomadas. Verifique se é possível aumentar sua capacidade de poupança para ampliar seu patrimônio. Lembre-se de que, no futuro, ele proverá boa parte da renda que hoje depende exclusivamente do seu trabalho.

Teresa ganhou menos do que Antônio, teve rendimentos de R$ 110 mil provenientes exclusivamente do trabalho. Seu patrimônio é semelhante ao de Antônio, cerca de R$ 600 mil no exercício anterior e R$ 630 mil no exercício atual. Teresa conseguiu poupar 27% da sua renda e aumentou sua riqueza em R$ 30 mil. O ano passado foi um bom ano para Teresa, se ela conseguir manter esse padrão, podemos afirmar que ela está indo por um bom caminho.

Vale lembrar que todos os bens são declarados pelo valor de aquisição. Sendo assim, Antônio não pode usar o argumento de que seu patrimônio diminuiu em razão da desvalorização dos ativos, exceto que ele tenha efetivamente vendido algum ativo por valor inferior ao de compra.

A evolução patrimonial registra também o montante de dívidas e ônus reais, outro indicador importante que revela o nível do endividamento e permite observar quanto do patrimônio foi comprado com recursos de terceiros.

Quando o nível de endividamento aumenta e o patrimônio permanece estável ou diminui, sinal de alerta, o consumo básico está sendo custeado com empréstimos, situação insustentável em médio ou longo prazo. Bom momento para pisar no freio e verificar que despesas podem ser reduzidas ou eliminadas e tentando melhorar a destinação da renda familiar.

Ah, não posso deixar de alertar que quando a evolução patrimonial é elevada, tomando praticamente toda a renda do ano, problema à vista. Revise a declaração em busca de algum erro ou omissão para evitar cair na malha fina. A Receita está sempre alerta em busca de incoerências como essa.

Artigo publicado originalmente na Folha de S.Paulo em 04/04/2022

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