Consultório financeiro - Texto

Volta ao presencial ajuda FIIs de escritórios?

Stefano Tremea, CFP®, responde:

A pandemia trouxe transformações significativas no mundo do trabalho, com o home office emergindo como uma solução prática e eficiente durante os momentos mais críticos de isolamento social. À medida que avançamos para um cenário pós-pandêmico, a demanda pelo trabalho presencial está ressurgindo, e, com ela, a expectativa de um aquecimento no mercado de fundos imobiliários (FIIs) de escritórios.

Segundo uma pesquisa da Harvard Business Review, 81% dos gestores acreditam que o trabalho em equipe presencial aumenta a colaboração e a inovação, fatores críticos para o crescimento organizacional. Um estudo da Universidade de Stanford também revelou que os funcionários que trabalham presencialmente são 13% mais produtivos em comparação com aqueles que trabalham remotamente. Esse aumento de produtividade é atribuído à redução de distrações domésticas e à maior facilidade de comunicação face a face.

Globalmente, muitas empresas estão adotando modelos híbridos, combinando trabalho presencial e remoto. A tendência de retorno ao escritório é mais clara em certos setores, como serviços financeiros, tecnologia e indústrias criativas. Em cidades como Nova York e Londres, a ocupação dos escritórios está em ascensão, refletindo um movimento de reocupação dos espaços corporativos. No Brasil, a realidade não é diferente. Um estudo realizado pela Cushman & Wakefield em 2023 mostrou que a taxa de vacância de escritórios em São Paulo caiu de 23% para 18% no último ano, indicando um movimento claro de retorno ao trabalho presencial. Outra pesquisa, da Fundação Instituto de Administração, apontou que 68% das empresas brasileiras planejam manter ou aumentar a quantidade de dias de trabalho presencial.

Nesse cenário, os FIIs de lajes corporativas, especializados em propriedades destinadas a escritórios, são diretamente beneficiados. Eles investem em edifícios comerciais de alto padrão, localizados em regiões estratégicas das grandes cidades, que são altamente procurados por empresas em busca de espaços para suas operações. A principal vantagem é a capacidade de gerar renda passiva consistente para os investidores. Esses fundos distribuem, de forma isenta de tributos, 95% dos seus resultados aos cotistas. Ademais, à medida que o mercado imobiliário se recupera e a demanda por escritórios de qualidade aumenta, há um potencial significativo de valorização das cotas desses fundos. A correlação inversa entre taxas de juros e o valor de mercado dos imóveis reforça ainda mais a atratividade. Em um ambiente de juros mais baixos, o custo de financiamento para aquisições e desenvolvimentos imobiliários diminui, incentivando novas construções e reformas, resultando, assim, em uma maior ocupação e aumento dos aluguéis, o que beneficia diretamente o setor.

Embora a volta ao trabalho presencial possa oferecer uma oportunidade de aquecimento desses FIIs, os investidores devem proceder com cautela, pois se trata de um investimento em renda variável. Logo, o retorno não é certo e há riscos envolvidos. A volatilidade, a vacância dos imóveis e, principalmente, a falta de liquidez podem impactar os resultados em ciclos econômicos recessivos. Diversificar os investimentos entre diferentes classes de ativos protege contra perdas significativas e maximiza as oportunidades de ganho, proporcionando um portfólio mais equilibrado e resiliente.

Stefano Wigner Tremea é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 22 de Julho de 2024

0