A previdência privada em tempo de juros menores
Sou assinante do Valor e tenho algumas questões sobre previdência privada. Com as quedas ocorridas e a previsão de que as taxas de juros continuem baixas mesmo com inflação alta, o que fazer para formar reservas para a aposentadoria? Quais são as opções de investimento rentáveis e seguras atualmente? Quais são as alternativas aos planos de previdência privada? Eles continuam sendo uma boa escolha?
Angela Nunes, CFP®:
Caro leitor, suas preocupações são muito pertinentes. Estamos vivendo uma nova realidade em relação às taxas de juros no Brasil, já que elas caíram de uma forma muito significativa nos últimos meses e os novos patamares serão, provavelmente, duradouros.
A taxa de juro real (descontando a inflação) também caiu fortemente nos últimos tempos. Tomando como parâmetros para cálculo a taxa básica de juros da economia (Selic) definida pelo Banco Central (BC) e a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), verifica-se que a taxa de juros real recuou da faixa de mais de 6% ao ano para níveis próximos a 3% ao ano.
Se por um lado a redução nas taxas de juros é boa para aqueles que têm dívidas, por outro lado, o impacto e as consequências para quem está se preparando para a aposentadoria – e também para aqueles que já vivem do rendimento das suas reservas financeiras – estão longe de serem triviais. Muito pelo contrário. Esses impactos são graves, pois a grande contribuição para o crescimento das reservas financeiras, que vinha sendo dada pelas altíssimas taxas de juros brasileiras, já não existe mais. E isso se soma ao efeito do Imposto de Renda (IR) incidente sobre os rendimentos da maior parte das aplicações financeiras.
A falta de entendimento desse novo cenário pode comprometer fortemente o grande objetivo de uma maturidade digna e tranquila, especialmente quando se leva em conta que a expectativa de vida vem aumentando.
Respondendo às suas questões:
Para buscar mais rentabilidade, você deve analisar os diversos ativos disponíveis no mercado financeiro: títulos públicos – em especial os que são rentabilizados pelo IPCA (NTNs-B) -, Letras Financeiras (LFs), Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), só para citar alguns.
Em relação aos planos de previdência privada, é preciso que você analise cuidadosamente todos os detalhes: a modalidade do plano (PGBL ou VGBL), a composição da carteira, o tipo de renda futura, os beneficiários da renda, o regime tributário (se progressivo ou regressivo) e os custos.
No atual patamar dos juros, o impacto das taxas de administração sobre os resultados de uma aplicação financeira se tornou ainda mais relevante para o investidor. Produtos com custos acima de 1% ao ano são extremamente caros, especialmente quando se leva em conta que os planos de previdência privada são compostos por alocações de recursos para o longo prazo.
Mas, se me permite, caro leitor, eu gostaria realmente de “alertá-lo” sobre um aspecto em particular: como a magnitude da queda dos juros foi muito acentuada, tentar ajustar o efeito dessa queda em seus investimentos “somente” por intermédio da busca de maior rentabilidade na alocação das reservas será, provavelmente, insuficiente e/ou implicará maior risco e/ou menor liquidez – o que, nem sempre, combinará com o seu perfil e capacidade de assumir mais risco e/ou abrir mão de liquidez.
Portanto, em um processo de adaptação da “preparação para a aposentadoria” provocado pelos efeitos da queda nas taxas de juros, o planejamento financeiro tornou-se ainda mais importante. As alternativas e soluções terão que ser conjuntas e complementares, será fundamental reavaliar não só a alocação da carteira de investimentos, mas também todo o planejamento financeiro individual e familiar, especialmente a pauta de receitas e despesas.
Será relevante, sem dúvida, buscar – quando possível e adequado ao seu perfil de risco – maior rentabilidade nos investimentos. Mas também poderá ser necessário alcançar um novo equilíbrio do orçamento doméstico, de forma a aumentar a capacidade de geração de poupança (receitas menos despesas) – seja por meio da redução de despesas, seja pela criação de fontes alternativas de renda ou mesmo pela da postergação da data da aposentadoria.
A falta de atenção e ação em relação a esses pontos poderá implicar uma renda, na aposentadoria, menor do que seria desejado e/ou no término das reservas em um prazo menor do que o necessário, devido à sua longevidade.
Portanto, prezado leitor, você terá, daqui para frente, que tomar decisões e fazer escolhas relevantes para atingir os objetivos desejados.
Angela Nunes é Planejadora Financeira Pessoal e possui a Certificação CFP (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 25 de junho de 2012.