Aposentadoria do casal aos 90 anos
Meu marido e eu temos 55 anos e gostaríamos de fazer um planejamento financeiro para podermos parar de trabalhar. Supondo que nós quiséssemos parar hoje, quanto teríamos que ter aplicado para mantermos uma renda mensal de R$ 30 mil até os 90 anos?
Maria Angela Nunes Assumpção, CFP®, responde:
Prezada leitora, considerando que o esforço de constituição das reservas já deve ter sido realizado, a resposta à sua pergunta ficaria mais rica se tivéssemos a informação do volume de recursos de que vocês dispõem, pois poderíamos estimar a renda mensal que vocês poderiam utilizar de hoje até os 90 anos.
É importante observar que, para a análise do quanto das reservas já constituídas poderemos dispor mensalmente ao longo da nossa longevidade, além de avaliar o montante de reservas acumulada durante a nossa vida ativa, temos que considerar também outro ponto fundamental, que é a taxa de juros real (valor nominal descontada a inflação) pela qual as nossas reservas estão sendo rentabilizadas.
Sobre este aspecto, a realidade mudou muito nos últimos dois anos. A taxa de juros real caiu fortemente, atingindo níveis em torno de 1% ao ano, afetando de forma expressiva o equilíbrio entre a equação: reservas financeiras acumuladas e renda mensal desejada e/ou possível na longevidade.
O que significa que, após a queda dos juros reais, manter um determinado padrão de vida na longevidade passou a exigir que as reservas financeiras sejam de muito maior monta.
Analisando-se a mesma equação por outro ângulo, se as reservas financeiras para a longevidade já estão constituídas, a queda das taxas de juros, provavelmente, passou a exigir uma redução do padrão da renda mensal na longevidade, ou seja, as pessoas têm ou terão que fazer uma revisão nos seus orçamentos.
Se este ajuste não for realizado, corre-se o risco das reservas serem consumidas muito mais rapidamente e terminarem mais cedo do que o esperado.
Feitas essas observações, vamos voltar à sua questão: para estimar o valor das reservas necessárias para fazer frente ao seu objetivo de uma renda mensal de R$ 30 mil para a longevidade, utilizamos como parâmetros de cálculo juros reais (juros nominais descontando-se a inflação) de 1% ao ano e, apesar de você ter estabelecido 90 anos como parâmetro para a longevidade, consideramos 100 anos na nossa análise.
Para ter uma renda mensal equivalente a R$ 30 mil (valor de hoje) do momento atual até os seus 90 anos de idade, a reserva acumulada hoje deverá ser em torno de R$ 10,7 milhões se o juro real for de 1% ao ano nos próximos 35 anos.
Se análise for feita com base em 100 anos, o valor da sua reserva acumulada necessária subirá para, aproximadamente, R$ 13 milhões para juros reais de 1% ao ano nos próximos 45 anos.
Como você pode observar cara leitora, os valores não são nada triviais e o efeito do nível da taxa de juros real é extremamente relevante.
Se for a sua necessidade, você poderá buscar um maior patamar de rentabilidade para as suas reservas aumentando o grau de risco da sua carteira de investimento (se você tiver um perfil para assumir um maior risco) e/ou reduzir o valor da sua renda mensal desejada por meio de uma reavaliação do seu orçamento.
Outra observação importante é que, como os parâmetros são mutáveis ao longo do tempo, temos sempre que fazer uma revisão do nosso planejamento financeiro.
Espero que as informações tenham sido úteis para as suas análises, mas espero acima de tudo que o seu planejamento financeiro possibilite que você e seu marido tenham uma longevidade tranquila e sem sobressaltos.
Maria Angela Nunes Assumpção é Planejadora Financeira Pessoal e possui a Certificação CFP (Certified Financial Planner) concedida pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF). E-mail: [email protected]
As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou do IBCPF. O jornal e o IBCPF não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para:
Texto publicado no jornal Valor Econômico em 15 de abril de 2013