Seu Planejamento Financeiro

Bati o carro e preciso pagar o conserto. O que devo fazer?

Bati o carro e preciso pagar o conserto. É melhor tirar dinheiro do plano de previdência ou pegar um empréstimo?

Roberto Agi, CFP®, responde:

Olá, sua pergunta é interessante, mas não tão simples de respondê-la com precisão, pois precisaria ter mais informações sobre seu plano de previdência, regime tributário, seu fluxo de caixa, etc. De qualquer forma, independentemente de sabermos na ponta do lápis, qual seria a melhor decisão em termos financeiros, acho que podemos discutir pontos importantes do planejamento financeiro usando o seu caso. Um dos pilares de um bom planejamento é manter sempre uma reserva de emergência – a recomendação é que os recursos dessa reserva estejam investidos em produtos conservadores e com alta liquidez. Não conheço o seu plano de previdência para saber se ele tem características conservadoras, mas ainda que tenha um acesso fácil aos seus recursos, a previdência não é veículo mais adequado para compor uma reserva de emergência. Tesouro Selic, Fundos Referenciados DI, CDBs com liquidez e até mesmo a Poupança, são mais adequados à essa finalidade.

Um plano de previdência tem diversas vantagens, mas que fazem mais sentido quando o horizonte de investimentos é de longo prazo. Sem aprofundar nas características dos planos de previdência, seus principais benefícios são a poupança compulsória (permite aportes regulares como se fosse uma conta para pagar), poder postergar o imposto de renda que deveria pagar no ano para uma data futura e ainda reduzir a alíquota de imposto (só vale no PGBL e para quem faz a opção pelo modelo completo na declaração de ajuste), não tem come-cotas, opção de regime tributário (regime progressivo ou compensável – que dependendo do caso pode ter de volta parte ou todo o imposto pago e regime regressivo, que pode chegar até 10% de imposto de renda após 10 anos) e planejamento sucessório (a previdência não passa por inventário, agilizando o pagamento e evitando a tributação do ITCMD – aqui vale reforçar que alguns Estados entendem que essa cobrança é devida).

Gosto de dividir o patrimônio em diferentes caixas que se comunicam entre si. Como falei acima, a primeira delas seria a reserva de emergência e depois de enchê-la pode começar a encher as outras (projetos, educação dos filhos, aposentadoria, etc). A previdência, na minha opinião e pelas características descritas acima, deve ser usada para a caixa de aposentadoria ou independência financeira e, como em geral, esses recursos serão utilizados em um prazo longo, podem ser alocados em um plano com características mais arrojadas, em busca de um retorno mais alto também.

Outro pilar importante do planejamento financeiro é a gestão de riscos, não só pessoais como patrimoniais também – não consigo saber se você não tem um seguro do seu automóvel ou se pagar a franquia para consertá-lo não se justifica, mas a opção de manter um carro sem seguro exige uma reserva de emergência ainda maior. Além disso, um acidente pode gerar um prejuízo muito grande, principalmente se você for o responsável e se envolva outros veículos e pessoas, podendo comprometer seu patrimônio e esforço de poupança.

Vamos imaginar que seu plano de previdência seja um PGBL e esteja nos primeiros dois anos de contribuição com regime regressivo. Um resgate nesse momento seria tributado sobre todo o valor à uma alíquota de 35% – ex: resgatando R$ 2 mil no plano de previdência, você pagaria R$ 700 de imposto de renda, sendo que se o mesmo resgate fosse feito na alíquota mais baixa, de 10%, o imposto pago seria de R$ 200. Se tomasse esse mesmo valor no crédito pessoal por um prazo de 6 meses, desde que o custo total (CET) ficasse abaixo de 6,77% ao mês, seria mais vantajoso optar pelo crédito. Como disse acima, é preciso analisar melhor sua situação antes de tomar uma decisão.

De qualquer forma, como aprendizado desse evento, sugiro que avalie tomar as seguintes providências: comece a montar uma reserva de emergência com as sobras do seu fluxo de caixa. Caso não tenha sobras, revise seu fluxo e busque maneiras de reduzir as despesas ou aumentar as receitas. A recomendação é que essa reserva tenha o montante equivalente a aproximadamente 6 meses de despesas. Entenda se o seu plano de previdência é um PGBL ou VGBL (se for PGBL e não faz a declaração completa, não é o veículo adequado para você), levante qual o regime tributário do seu plano, progressivo ou regressivo. Na maior parte dos casos, para quem tem um horizonte de longo prazo, o regressivo pode ser melhor, mas há exceções. Detalhe também as características do seu plano, como taxa de administração, carregamento, nível de risco e, se for o caso, avalie a possibilidade de portar para outro plano, sem a necessidade de resgate, que seja mais eficiente em termos de custos, risco e retorno. Por fim, sugiro avaliar a contratação de um seguro adequado incluindo a cobertura de responsabilidade civil. Espero que tenha ajudado.

Roberto Costa Agi planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Texto publicado no site Época Negócios em 07 de maio de 2019

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