Artigos Planejar

Com o atual patamar da Selic, faz sentido investir em renda variável?

Dependendo do perfil do investidor, mesmo com a Selic em alta, faz sentido manter na carteira ativos de renda variável, sem deixar de aproveitar o momento econômico para ter ganhos reais acima da inflação com ativos de renda fixa

Sandra Melo CFP®, responde:

A decisão de começar a investir ou rentabilizar o patrimônio deve ter como ponto de partida o perfil do investidor. A partir daí, reconhecer o momento econômico pode trazer oportunidades de ganhos tanto em renda fixa quanto em renda variável.

No mercado financeiro, o conceito de “suitability” refere-se a uma análise feita por instituições financeiras para saber se os produtos sugeridos estão adequados ao perfil do cliente. Para isso, aplica-se um questionário que avalia, principalmente, disponibilidade em recursos financeiros, objetivos num horizonte de tempo (curto, médio e longo prazo), além da tolerância ao risco. Após essa análise, o perfil identificado pode ser conservador, moderado, arrojado ou agressivo.

Para o investidor de perfil conservador, um índice financeiro (benchmark) utilizado para comparar a rentabilidade da carteira é o CDI (Certificado de Depósito Interfinanceiro), que acompanha de perto os percentuais da taxa Selic. Em setembro de 2022, foi sinalizado pelo COPOM (Comitê de Política Monetária) o fim do ciclo de alta de juros, pelo menos por enquanto, mantendo-se os juros em 13,75% ao ano. Para aproveitar ainda o momento de alta da Selic, destacam-se aplicações com ganhos reais e baixo risco de crédito, como o LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e o LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), por contarem com garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) de até 250 mil por CPF e por instituição. São isentos de imposto de renda, na maioria dos casos com rentabilidade prefixada e pós-fixada, mas é importante atentar para a liquidez, pois existem prazos de vencimento diferentes de acordo com a rentabilidade oferecida em cada instituição, não sendo possível fazer resgates antecipados.

Também amparado pelo FGC, para os casos de necessidade de maior liquidez com rentabilidade diária existe a opção do investimento em CDB (Certificado de Depósito Bancário) pós-fixado no DI (Depósito Interfinanceiro). Quanto maior o percentual do DI, melhor, pois incidem imposto de renda sobre o rendimento no resgate conforme tabela regressiva e IOF para resgates com menos de 30 dias. Seguindo nesse perfil, ainda temos os títulos públicos do Tesouro Direto, com destaque para o Tesouro Selic e o Tesouro IPCA+, com baixo risco de crédito e alta liquidez, mas é necessário cuidado para vendas antes do vencimento devido à marcação a mercado, que é a volatilidade no valor do título, que pode deixar o preço menor ou maior que o preço de compra, além de todos os custos envolvidos na venda.

Para o investidor com perfil moderado que busca maior rentabilidade sem correr tanto risco, a opção seria ter na carteira, além das aplicações que acompanham o CDI, fundos de investimento que possam superar esse índice. Entram nessa categoria os fundos multimercados, fundos de crédito privado, fundos de índices e tantos outros disponíveis no mercado que são administrados por gestores profissionais que buscam melhor resultado no médio e longo prazo. Esses casos não têm garantia do FGC, portanto estão sujeitos ao risco de crédito de cada instituição ofertante. Importante acompanhar a rentabilidade líquida após descontar todas as despesas do fundo, seja com taxas, seja com impostos.

Por fim, para o investidor de perfil arrojado ou agressivo, o objetivo é rentabilizar a carteira ao longo do tempo com retorno bem superior ao CDI, utilizando inclusive outros benchmarks. Para isso costuma-se manter menor exposição da carteira em renda fixa e maior em renda variável de acordo com o cenário econômico. Esse investidor está disposto a correr mais riscos, ciente da volatilidade no curto prazo, então adquire ativos que pagam bons dividendos, ativos valorizados com crescimento perene, além dos subvalorizados que possam ter posterior valorização no mercado.

Portanto, a depender do perfil do investidor, mesmo com a Selic em alta faz sentido manter na carteira ativos de renda variável, sem deixar de aproveitar o momento econômico para ter ganhos reais acima da inflação com ativos de renda fixa de baixo risco. Aproveite para verificar hoje mesmo seu perfil de investidor, faça uma carteira de investimentos e utilize as melhores estratégias de planejamento financeiro para rentabilizar seu dinheiro. 

Sandra Melo é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial  Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. 

Texto publicado na Revista Época em 11 de janeiro de 2023.

6