Com os juros de hoje, vale a pena comprar ou alugar?
Com os juros no patamar de hoje, vale a pena comprar ou alugar um apartamento?
Wellington Lanza CFP®, Responde:
As questões que envolvem da aquisição (ou não) de um imóvel à moradia certamente transcendem o atual momento de juros historicamente mais baixos. Essa decisão sempre foi influenciada pelas raízes culturais do brasileiro, que de modo geral, há muitas gerações, sempre valorizou a “tão sonhada casa própria”, tida como sinal de sucesso, status e, por vezes, até aceitação social. Essa leitura de eminente necessidade patrimonial imobiliária foi agravada pelo efeito inflacionário da década de 1980, que tornava os imóveis próprios uma espécie de porto seguro para aqueles que os possuíam.
Ainda que atualmente essa visão não tenha sofrido considerável alteração, a sofisticação do mercado financeiro, as alternativas de investimento e a maior estabilidade econômica brasileira sugerem que, antes dessa aquisição tão representativa ao patrimônio, alguns fatores sejam previamente analisados.
Sob o aspecto quantitativo, os fatores essenciais à referida tomada de decisão passam obrigatoriamente pela avaliação financeira das alternativas, que requer alguns dados tais como o valor do aluguel, o valor à vista do imóvel (caso haja essa disponibilidade de recurso) ou valores das prestações e taxas de juros do financiamento, se for esse o caso.
De forma muito prática e simples, por exemplo, se a pessoa já possui o recurso disponível à aquisição à vista do bem e o valor do aluguel (considerando seus reajustes) supera os rendimentos (juros) que essa “poupança” está proporcionando, pode-se ter um importante fator que sugere a aquisição do imóvel. Por outro lado, se eventualmente esse investimento/poupança estiver proporcionando constantemente juros superiores ao valor do aluguel, talvez seja motivo para adiar a decisão de compra. Porém, há outros fatores que devem compor essa avaliação.
Ainda sob a ótica financeira, algumas situações devem ser previstas, tais como um indesejado caso de desemprego ou redução de renda. Deve-se avaliar se, de que forma e por quanto tempo haveria capacidade de manutenção do pagamento das parcelas do financiamento.
Quanto ao planejamento familiar, sugere-se observar se há previsão de aumento no número dos membros da família, o que poderia vir a requerer um imóvel maior adiante. E, como fenômeno mais recente e igualmente importante, encontra-se a aceleração do chamado home office, fator que interfere diretamente na decisão de aquisição imobiliária, de tamanho e de localização, a depender das atuais mas também das futuras diretrizes e regras adotadas no trabalho.
Sem a pretensão de esgotar este tema, mas visando a inserção de outro pilar fundamental do planejamento orçamentário das famílias, antes de qualquer decisão que envolva desembolso ou assunção de compromisso financeiro é imprescindível a prévia constituição da chamada reserva de emergência, que é a disponibilidade financeira acessível que deve ser equivalente a no mínimo três meses de gastos mensais, considerando-se ainda que, no caso de uma imprevista necessidade, o imóvel possui baixa liquidez, ou seja, a venda pode não ocorrer de forma de tão imediata.
Portanto, após uma recomendável e extensa pesquisa das ofertas (em especial, das taxas de financiamento), todas as condições financeiras apresentadas devem ser minuciosamente avaliadas e comparadas, tais como a avaliação de viabilidade financeira de um projeto, ponderando adicionalmente todos os demais aspectos qualitativos, conforme os exemplos mencionados.
Wellington Lanza é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail [email protected]
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Texto publicado no site Época Negócios em 09 de março de 2021.