Consultório Financeiro

Como conciliar perfis diferentes de investimento do casal?

Eu e minha esposa temos perfis diferentes de investimento. Ela é mais conservadora e eu sou mais agressivo. Como conciliar isso?

 Diego Gulla, CFP®, responde:

Olá,

Seu problema na verdade pode ser uma solução! Pensando no crescimento do patrimônio e na volatilidade dos ativos financeiros ao longo do tempo, é muito bom que o casal tenha perfis diferentes. Isso traz diversificação e, consequentemente, retornos mais consistentes a médio e longo prazo.

Isso foi visto com clareza por muitos investidores a partir de março do ano passado com o início da pandemia. As carteiras de perfis mais agressivos sofreram quedas abruptas, com desvalorizações que ultrapassaram 50% em alguns períodos. Esse cenário somou-se ao forte impacto negativo na economia real, que trouxe desemprego e incertezas. Foi nesse ambiente que muitos investidores com perfil mais agressivo foram “colocados à prova”, pois em alguns casos, independentemente de reserva de emergência, se fez necessário resgatar investimentos para cobrir despesas de subsistência, realizando grandes prejuízos.

Dessa forma, ressalta-se também a importância de conhecer na prática seu perfil de investidor, pois no mesmo período as incertezas trazidas pela pandemia levaram muitos investidores a vender suas posições em ações e ativos mais voláteis não por necessidade e sim pelo impacto emocional. Diversos estudos de finanças comportamentais revelam que o impacto emocional da perda é, em média, duas vezes maior que o impacto positivo do ganho, e o viés comportamental de um investidor pode levá-lo a tomar decisões pela emoção, muitas vezes contrárias ao que havia planejado.

Isso posto e partindo para o lado mais prático, olhe para a carteira de investimentos do casal como um todo, mas divida as alocações entre os dois perfis; cada um ficará responsável pela alocação, pela análise e pelo acompanhamento de sua parcela. Assim, ambos deverão apresentar e defender suas escolhas para o outro e poderão perceber as vantagens e desvantagens de ser muito conservador ou muito agressivo com o passar do tempo e dos acontecimentos que movimentam o mercado financeiro. Além disso, aprenderão juntos a respeitar o perfil de investidor de cada um, pois é algo muito individual e dependente de inúmeras variáveis, como histórico familiar, tolerância ao risco, idade, conhecimento financeiro, entre outras.

Permita-se aceitar as sugestões mais conservadoras de sua esposa. Atualmente existem alternativas na classe de Renda Fixa que podem lhe garantir bons retornos, inclusive com proteção de inflação e isenção fiscal. Alguns títulos bancários como os CDBs, LCAs e LCIs de instituições menores também possuem taxas bastante atrativas e ainda contam com a garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para valores de até R$ 250 mil por CPF por instituição.

Com esse planejamento, certamente sua esposa também irá reconsiderar suas escolhas e preferências. Uma parceria de sucesso nos investimentos do casal irá exigir flexibilidade dos dois e uma comunicação aberta e honesta, sempre respeitando o tempo individual para pensar sobre as alternativas. Cada um deve compreender o seu papel na relação com os investimentos, mas se esforçar para o sucesso compartilhado!

Diego Gulla é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 06 de setembro de 2021.

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