Seu Planejamento Financeiro

Você se planeja para comprar um apartamento até os 30 anos?

Wellington Lanza, CFP®, responde:

A sua pergunta é muito bem-vinda, pois demonstra uma sábia atenção em relação aos planejamentos financeiro e patrimonial.

Antes dessa importantíssima decisão, alguns aspectos devem ser cautelosamente observados, haja vista que o imóvel tende a representar uma parcela muito relevante do patrimônio (e do orçamento mensal se for financiado).

O primeiro ponto é verificar, antes de qualquer decisão que envolva grande desembolso ou assunção de compromisso financeiro, se a chamada reserva de emergência já está constituída. Trata-se de um capital que deve estar imediatamente disponível no caso de uma necessidade repentina ou de um imprevisto. Recomenda-se que o valor dessa reserva seja de no mínimo o equivalente a seis meses das despesas correntes. Deve-se somar a essas despesas aquela que seria o valor da prestação do imóvel, se for o caso.

Em paralelo, é fundamental refletir acerca do estágio do planejamento familiar, observando se há, por exemplo, previsão de aumento nos membros da família, o que poderia requerer um imóvel maior adiante e, sendo o imóvel um bem ilíquido (ou seja, difícil de ser vendido imediatamente), a eventual necessidade de mudança para um imóvel maior poderia não ser tão rápida. E, em sendo assim, nem sempre há clareza dessa previsibilidade antes dos 30 anos de idade como questionado pelo leitor.

Ainda como fenômeno mais recente e igualmente importante, encontra-se a aceleração do chamado home office, fator que interferiu diretamente na decisão de aquisição imobiliária nos âmbitos de tamanho e localização, o que por sua vez depende das atuais (mas também das futuras) diretrizes e regras que podem vir a ser adotadas no mercado de trabalho, bem como da influência da não tão recente e conhecida maior rotatividade de empresa entre as faixas etárias mais jovens.

Sem pretensão de esgotar o tema, se por um lado a meta de aquisição de um imóvel pode ser altamente benéfica no sentido de incentivar um melhor gerenciamento dos gastos e a formação de poupança, por outro não se pode desprezar que se trata da relevante aquisição de um bem imobilizado e de pouca liquidez. Se for destinado a uma venda futura ou ao recebimento de aluguéis, sugere-se que tal alternativa seja comparada a outros investimentos, em conformidade com o perfil de risco e os objetivos do investidor, disponíveis no mercado financeiro.  

E, ainda que os fatores acima estejam plenamente planejados e atendidos, é importante lembrar que as questões relacionadas à moradia são historicamente influenciadas pelas raízes culturais do brasileiro, que de modo geral e há muitas gerações sempre valorizou a tão sonhada “casa própria”, tida como sinal de sucesso, status e por vezes até aceitação social. Essa leitura foi agravada pelo efeito inflacionário da década de 1980, que tornava os imóveis próprios uma espécie de “porto seguro” para aqueles que os possuíam. Quanto a esses aspectos, observa-se maior estabilidade econômica neste momento comparativamente àquele período e, como na esteira de outras tendências, os hábitos de consumo também vêm demonstrando alterações em direção ao chamado “consumo compartilhado” seja de imóveis, seja de veículos etc., ou seja, a posse momentânea (mas não a propriedade) dos bens.

Se, porventura, após a avaliação de todos os aspectos mencionados você optar pela aquisição do imóvel, é muito recomendável considerar a opção de, se possível, economizar recursos para uma eventual compra à vista. E, se a opção for pelo financiamento, uma extensa pesquisa das ofertas (em especial, de taxas e sistemas de amortização) e de todas as condições financeiras apresentadas deve ser minuciosamente avaliada e comparada com o objetivo de identificar a melhor alternativa disponível.

Wellington Lanza é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial  Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. 

Texto publicado no site Época Negócios em 08 de setembro de 2021.

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