Como criar um filho sem estourar o orçamento
Tenho 32 anos e minha esposa tem 30. Trabalhamos numa empresa de tecnologia e nossos salários somados nos permitem viver uma vida legal. Saímos, viajamos, temos um carro, moramos no nosso apartamento (que é financiado), mas não conseguimos guardar dinheiro. Algo novo, maravilhoso e inesperado aconteceu: estamos esperando um bebê e, com as novas despesas, vamos acabar precisando usar o cheque especial e o cartão de crédito. O que fazer? Não queremos viver assim!
Fernando Meibak, CFP:
Prezado, vocês são relativamente jovens e estão curtindo bem a vida. Viajam, saem (presumo que talvez para restaurantes, baladas, shows), têm carro e moram num apartamento financiado. Você me passou a informação (muito importante) de que gastam tudo o que ganham, o que é muito errado, mas acontece, inapropriadamente, com muitas pessoas.
Uma coisa boa, assim podemos dizer, é que vocês não estão gastando mais do que ganham, pois o custo de crédito no Brasil para financiamento de pessoas físicas – quer sob a forma de crédito pessoal, limites de cheque especial (o pior de todos) ou cartões de crédito (o segundo pior) – é extremamente alto. Utilizamos como alerta, em nossas palestras sobre educação financeira, uma frase um tanto intensa: fujam do cartão de crédito e do cheque especial!
Vocês terão um tempo grande de vida produtiva para acumular reservas, mas há um fato novo, muito relevante: a chegada do primeiro filho, que vai trazer um volume novo de despesa. Há uma frase também muito utilizada: “Filho é para sempre”. Normalmente, as despesas com o filho não serão para sempre, mas sim até que eles sejam adultos – o que significa um longuíssimo prazo.
Você não comentou em sua pergunta, mas depreendo que não tenha reservas financeiras quaisquer. Também não está especificado o valor do saldo financiado do imóvel em que residem. Uma coisa muito importante foi essa aquisição, pois moradia própria é um bem super-relevante na vida das pessoas. E pelo estilo do casal, de ser muito gastador, essa prestação mensal tem uma contrapartida, um bem real.
Esse é um tema que também comentamos muito com clientes. Para os desorganizados, contumazes gastadores, ou mesmo consumidores compulsivos (há muitas pessoas assim), criar compromissos como as prestações para aquisição de imóveis pode ser positivo. Isso porque, caso não tenham essas obrigações, o dinheiro vai embora… A despeito da taxas de juros desses financiamentos ou aquisições, ao longo do tempo significará um bem de valor.
A parte final de sua pergunta é ótima: “Vamos precisar usar o cheque especial, cartão de crédito. O que fazer? Não queremos viver assim!” Acentuo o seu comentário: vocês não poderão viver assim! Ou seja, não poderão financiar o consumo e gastos adicionais com o bebê com cheque especial, cartão de crédito ou com qualquer outra forma. Vocês têm que reduzir os gastos do casal! Tudo indica que há espaço, pois saem, viajam etc. Terão que ajustar os gastos atuais (que irão aumentar com o bebê) às rendas do casal.
Na faixa de idade do casal, que ainda terá um filho (ou mais), seria importante ter um planejamento de longo prazo, poupando recursos para o futuro. É muito fácil gastar, não importando o quanto você ganha! É uma delícia viajar, comprar um relógio novo, uma bolsa, uma moto, um iPad, um sapato, ir a restaurantes, shows etc. Mas o tempo vai passar. Se você não cuidar do seu futuro quando ainda é novo, será mais difícil mais adiante. Uma regra de ouro que muitos não seguem: gaste menos do que você ganha! Outra regra de ouro: guarde dinheiro todo mês! Vocês não estão seguindo nenhuma das duas…
Ótimo que estejam despertando para o tema. Façam os ajustes no orçamento mensal do casal. Cortem as despesas possíveis, equilibrem o fluxo do casal e estabeleçam objetivos de longo prazo, pois vocês precisam ter uma boa qualidade de vida e acumular recursos para o futuro. E curtam muito o bebê que está para chegar
Fernando Meibak; é Planejador Financeiro Pessoal e possui a Certificação CFP (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 23 de abril de 2012.