Como lidar com uma dívida bancária?
“Meu marido perdeu tudo o que tínhamos com operações diárias na bolsa de valores e ainda contraiu uma dívida com empréstimo pessoal no banco, no valor de 120 mil reais. Vendemos um de nossos carros, mas só conseguimos 65 mil. O banco diz que não pode diminuir a dívida. Eles disseram que podemos adiantar algumas parcelas no valor de 65 mil e parcelar o restante, mas, aí a dívida aumentaria ao longo do tempo. Temos um apartamento que alugamos para aumentar a renda e uma casa onde moramos. Se não conseguirmos pagar a dívida, o banco pode penhorar um dos imóveis? Eu quero pagar a dívida, mas não tenho condições agora. Como proceder?”
Marcelo Henriques, CFP®, responde:
Lidar com Uma Dívida
Antes de procurar recursos financeiros de forma açodada, aborde o problema em etapas.
Primeiro, mantenha a calma e trate o problema como se fosse de outra pessoa. O objetivo é conter o envolvimento emocional e atitudes intempestivas.
Em segundo lugar, expresse o problema de forma simples e focando no futuro, sem remoer ou reviver os eventos passados e irreversíveis. O objetivo é focar na formulação do problema o que difere do processo decisório. Assim, o seu desafio agora é ter 55 mil reais (pois 120 – 65 = 55).
Terceiro, escreva as alternativas de solução, inclusive ouvindo sugestões de outras pessoas. O objetivo é analisar de forma holística as alternativas, as quais podem ser independentes, complementares ou mutuamente excludentes.
A solução do seu problema não requer necessariamente obter uma nova dívida ou tentar reduzir a atual dívida. Determine as perspectivas mensais de dinheiro disponível (entradas de caixa superando as saídas) a fim de saber suas reais condições para parcelar a dívida e evitar uma venda precipitada de imóveis.
Pressupondo nenhuma demissão ou redução de salário, um aumento de renda pode decorrer de empreendedorismo, tais como: artesanato e prestação de serviços online. O casal pode ter um hobby que pode se tornar uma atividade empresarial. Cogite em usar plataformas virtuais para vender objetos que não são úteis. Uma sucessão de ganhos pequenos de dinheiro pode ampliar o caixa de forma surpreendente.
Por outro lado, priorize os gastos associados à sobrevivência, reduza gastos no que houver opções mais baratas e certamente elimine gastos supérfluos. Contenha as compras pela internet com cartão de crédito.
A quarta etapa no processo de resolver o problema consiste em selecionar e implementar as alternativas viáveis e adequadas. Reduz-se a perspectiva de arrependimento quando as escolhas são feitas com convicção e mentalização de sucesso. Tais posturas são igualmente necessárias para que haja uma mudança da rotina e de hábitos na implementação das decisões.
Finalizando, após a solução do problema ter sido bem encaminhada, reavalie as causas do problema e as decisões tomadas de forma a extrair lições. Questione agora os motivos das perdas com operações na bolsa. Reflita sobre o propósito e a forma de execução daquelas operações diárias. Analise as circunstâncias e as condições do empréstimo pessoal de 120 mil reais. Na pergunta faltam dados sobre o contrato da dívida para avaliar a perspectiva de ação judicial. Ademais, o caso demonstra a importância de manter uma reserva de emergência para fazer frente a adversidades intensas e imprevisíveis. Por fim, aplica-se no seu caso o conselho de Warren Buffett: “Regra número 1: nunca perca dinheiro. Regra número 2: não esqueça a regra número 1”.
Marcelo Henriques de Brito é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 01 junho de 2020