Como montar um orçamento para não passar por apertos?
Tenho 27 anos, sou solteiro, não tenho filhos, possuo curso superior completo e tenho uma renda líquida mensal de aproximadamente R$ 4 mil.
Atualmente tenho investidos em poupança e fundos DI R$ 20 mil e um apartamento como único bem, cujo aluguel compõe parte do meu rendimento. Aplico também em um plano de previdência VGBL desde os 19 anos.
Meus objetivos de médio prazo (para o próximo ano) são: morar sozinho (calculo um gasto de R$ 1.700,00), comprar um carro (penso em um usado de R$ 20 mil) e iniciar um curso de pós-graduação (calculo cerca de R$ 1 mil por mês durante dois anos).
Fiz um fluxo de caixa, mas achei bem apertado. É possível realizar tudo isso com certa folga? Penso sempre em ter ao menos R$ 10 mil guardados para eventuais emergências. (F.G.)
Rafael Bernardino de Sousa, CFP®:
A carreira profissional pode ser vista como um patrimônio e, como tal, deve ser administrada com cuidado, a fim de que possa ser preservada e possibilite progresso, garantindo bons resultados e qualidade de vida no presente e no futuro.
É muito comum encontrar indivíduos que não levaram suas carreiras a sério e, por isso, desperdiçaram dinheiro e oportunidades. Tais pessoas, quando percebem as falhas cometidas, veem que não há como recuperar o tempo perdido.
É comum também, principalmente entre os jovens, a falta de preocupação com o futuro. Grande parte deles entende que certas decisões podem ser deixadas para depois, pois considera que ainda terá muito tempo para pensar, por exemplo, sobre sua aposentadoria. Assim, a maioria vive de forma distraída, sem planejamento adequado, procrastinando decisões importantes. Acabam chegando à velhice sem qualquer reserva financeira e, muitas vezes, carregando dívidas.
De parabéns o consulente, que, mesmo sendo jovem, está preocupado com o seu planejamento e resolveu explicitar seus objetivos, buscando orientação para poder tomar melhores decisões. Nesse sentido, informa que o seu fluxo de caixa projetado está bem apertado e pergunta se é possível cumprir sua programação com certa folga. Vejamos:
Tomando por base a renda líquida mensal informada de R$ 4 mil, deduzindo-se os R$ 2.700,00 referentes à previsão de gastos pessoais, mais o investimento no curso de pós-graduação, obtém-se um saldo positivo de R$ 1.300,00 por mês. Não foi informado o valor da aplicação na previdência VGBL e, por isso, não podemos confirmar o aperto do fluxo de caixa.
Considerando que, durante a nossa vida, precisamos avaliar as alternativas para fazer as melhores escolhas, sendo necessário, portanto, refletir, planejar e selecionar prioridades, podemos afirmar que a “folga” desejada será possível e dependerá do tempo de realização dos objetivos.
Uma boa alternativa seria, por exemplo, retardar por seis meses a decisão de morar sozinho e de comprar o carro. Mas por que seis meses? Porque evitaria os gastos pessoais previstos de R$ 1.700,00, cujo valor poderia ser aplicado em poupança. Com juros mensais de 0,5%, resultaria, no fim do período de seis meses, no montante de R$ 10.328,00, que é o valor desejado para reserva de possíveis emergências.
Formada essa reserva, cujo montante se mostra adequado, tendo em vista que cobriria o equivalente aos gastos pessoais por um período de seis meses (R$ 1.700,00 x 6 meses = R$ 10.200,00), o valor investido em poupança e fundos DI (R$ 20 mil, mais os rendimentos do período) poderia ser utilizado, na sua totalidade, para a compra do carro desejado.
Essa alternativa garantirá uma decisão segura, apesar de ainda haver certo risco em função da dependência do rendimento da aplicação no fundo DI, ressaltando que os rendimentos dos fundos dependem sempre do rendimento dos papéis que os lastreiam.
Rafael Bernardino de Sousa é Planejador Financeiro Pessoal e possui a Certificação CFP® (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 2011.