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Como o medo de incorrer em perdas financeiras pode influenciar nossas decisões de investimento

Estela Borgheri, CFP®, responde:

O comportamento humano frente ao risco é amplamente estudado no campo das finanças comportamentais, e o medo de incorrer em perdas financeiras desempenha um papel crucial nas decisões de investimento. Esse medo, conhecido como “aversão à perda”, leva muitas vezes a decisões que, embora pareçam proteger o patrimônio no curto prazo, podem prejudicar o crescimento financeiro a longo prazo.

O que é aversão à perda?

A aversão à perda refere-se à tendência de sentir mais intensamente a dor de uma perda do que a satisfação de um ganho de valor equivalente. Em outras palavras, perder R$ 100,00 tende a gerar mais desconforto do que ganhar o mesmo valor provoca felicidade. Esse conceito foi amplamente explorado pelos psicólogos Daniel Kahneman e Amos Tversky, dois dos maiores nomes das finanças comportamentais.

Embora essa reação seja compreensível do ponto de vista emocional, ela pode se tornar um obstáculo quando falamos de investimentos. Isso porque o medo de perder dinheiro pode fazer o investidor optar por estratégias mais conservadoras ou por manter ativos em queda, na esperança de uma recuperação, em vez de reavaliar as opções de forma racional.

Um exemplo clássico desse comportamento ocorre em momentos de alta volatilidade no mercado, como durante crises financeiras ou quedas acentuadas em bolsas de valores. Em situações assim, muitos investidores, movidos pelo medo de incorrer em grandes perdas, acabam vendendo seus ativos em desvalorização, realizando prejuízos que poderiam não ter se concretizado. A pandemia foi um exemplo extremo disso: a Bolsa chegou a bater 62 mil pontos e logo depois se recuperou.

Outro cenário comum é a escolha de investimentos excessivamente conservadores, como a alocação de todo o portfólio em produtos de renda fixa. Pensar no seu patrimônio separado em “caixinhas” por objetivos ajuda bastante. Faz muito sentido deixar a Reserva de Emergência em investimentos extremamente conservadores, porém o dinheiro de mais longo prazo – por exemplo para aposentadoria, se ainda faltarem muitos anos – pode estar em investimentos mais voláteis.

Segundo a ANBIMA, das pessoas que investem em algum produto financeiro, 68% optam pela poupança, apesar do retorno relativamente baixo comparado a outros instrumentos financeiros e a taxa básica de juros no Brasil. Embora esse investimento ofereça segurança em termos de preservação do capital, ele pode não gerar rendimentos suficientes para compensar a inflação no longo prazo. Assim, o investidor, ao evitar riscos, pode estar assumindo outro tipo de perda, chamada de perda do poder de compra.

Como minimizar o impacto da aversão à perda nas suas decisões

Dado o impacto que o medo pode ter nas decisões de investimento, é importante que os investidores adotem uma abordagem mais estruturada – ou seja, criar uma “estrutura” para sua carteira, alocando um percentual do valor investido em cada classe de ativo e se mantendo fiel a essa alocação ao longo do tempo – a fim de gerenciar esses receios. Isso começa com o desenvolvimento de um planejamento financeiro bem delineado, que leve em consideração o perfil de risco do investidor e seus objetivos de curto, médio e longo prazo.

Diversificação é uma das principais ferramentas para mitigar os riscos de perdas significativas. Ao distribuir os recursos entre diferentes classes de ativos – como ações, renda fixa, imóveis e fundos internacionais –, o investidor reduz a dependência do desempenho de um único ativo ou setor, diminuindo assim a volatilidade da carteira como um todo.

Outro ponto fundamental é o foco no longo prazo. Estudos do Banco Central mostram que os investidores que mantêm suas posições durante períodos de crise tendem a ter retornos superiores aos que entram e saem do mercado em momentos de alta volatilidade. Isso acontece porque é extremamente difícil prever o momento exato de entrada e saída do mercado, e o “timing” errado pode gerar prejuízos irreversíveis.

O papel da educação financeira

A educação financeira também desempenha um papel essencial para ajudar a reduzir o medo e aumentar a confiança nas decisões de investimento. Investidores que compreendem os conceitos de risco e volatilidade e o comportamento de diferentes ativos ao longo do tempo estão menos propensos a tomar decisões precipitadas em momentos de incerteza.

Dessa forma, além da preservação do patrimônio, se torna possível o crescimento de forma sustentável ao longo do tempo.

Estela Borgheri é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]

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