Consultório Financeiro

Como se programar para não depender da Previdência oficial?

“Sou recém-formado e estou em início de carreira. Não quero depender da previdência oficial durante a minha aposentadoria. Como devo me programar e quais produtos financeiros são mais indicados para garantir uma renda satisfatória?”

Marcelo Magalhães, CFP, responde:

Sua preocupação em planejar a aposentadoria sem depender da Previdência oficial é válida, ainda mais com a situação atual do INSS, que, apesar de oferecer inúmeros benefícios, como renda vitalícia, auxílio-doença, aposentadoria por invalidez e auxílio-maternidade — atualmente sofre com os seguidos déficits e passará por uma reforma que ainda não sabemos em quais moldes deve ocorrer. A programação para a aposentadoria começa pelo fundamento mais básico de um bom poupador: gastar menos do que ganha mensalmente, e o ideal é que se poupe não menos do que 20% dos ganhos.

Com relação aos produtos financeiros, há diversas opções: títulos públicos, fundos de renda fixa, multimercados, de ações, mas por se tratar de um recurso para o longo prazo, vou abordar somente a destinação desse recurso para algum plano de previdência privada.

Se a sua declaração de Imposto de Renda (IR) for completa, você for contribuinte do INSS ou de algum regime próprio de previdência social e tiver renda tributável acima de R$ 100 mil, o ideal é escolher o PGBL, já que as contribuições feitas ao longo do ano podem ser deduzidas da renda tributável, até o limite de 12%, o que permite postergar o pagamento de Imposto de Renda.

No caso de fazer a declaração pelo modelo simplificado ou não ter renda tributável elevada, o ideal é que as contribuições sejam feitas no plano VGBL, que não possui o incentivo fiscal do PGBL, mas que possui diferenças de tributação.

Dentro dos planos de previdência privada, há uma infinidade de fundos, e a decisão sobre qual fundo escolher passa por alguns pontos. O primeiro deles é o perfil de investidor que você tem: conservador, moderado ou arrojado.

No perfil conservador, deve-se analisar somente fundos de previdência que apliquem em renda fixa, com baixa volatilidade, e também ter muita atenção com a taxa de administração do fundo, que é o quanto você paga à gestora para administrar esses recursos.

Há hoje no mercado desde fundos de previdência de renda fixa que cobram 0,5% ao ano, como os que cobram taxas acima de 3% ao ano.

Outro fator a ser observado nesses fundos é a carteira, se é composta somente por títulos públicos pós-fixados, que são ativos mais seguros quanto a risco de crédito e volatilidade, ou se é composta por crédito privado, que geralmente apresenta rendimento melhor, porém tem maior risco.

Para o moderado, o ideal é escolher ou fundos com títulos públicos com maior volatilidade, como os prefixados e indexados à inflação, ou fundos multimercados com baixa exposição a ações.

Já para o arrojado, convém montar uma carteira contendo fundos de previdência multimercado mais arriscados, que em geral podem ter até 70% da carteira alocada em ações. Nesses fundos, o que deve ser observado é a capacidade do gestor de entregar resultados com relação a seus pares, a reputação da gestora no mercado, a carteira do fundo, além da visão macro do gestor. Esses fundos geralmente têm taxa de administração maior, já que o trabalho no mercado acionário é mais ativo.

A notícia boa é que o mercado de previdência está cada vez mais disputado entre as instituições, o que levou ao surgimento de bons fundos, e com taxas e valores mínimos de aplicação cada vez menores.

O melhor conselho que posso te dar, no entanto, é procurar um profissional qualificado para te auxiliar nesse planejamento, que saiba identificar seu perfil e suas reais necessidades para se aposentar com tranquilidade.

Marcelo Magalhães é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 25 de março de 2019

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