Consultório Financeiro

Consórcio ou poupança: opções para trocar de carro

Quero trocar de carro nos próximos dois anos e estou estudando se faço um consórcio. Vale a pena ou é melhor poupar para pagar à vista?

Adilson Marcio Garcia, CFP, responde:

Precisamos saber primeiramente as características do consórcio antes de poder decidir sobre qual optar. Um consórcio de automóvel geralmente trabalha-se com 60 meses ou mais, pode-se encontrar consórcios que já estão em andamento com períodos menores, mas as regras para entrar nestes consórcios variam. É muito importante ler o contrato antes de assiná-lo para ter certeza de suas obrigações. Outra questão do consórcio é o fato da incerteza de conseguir o bem no momento específico. Apesar de haver a possibilidade de fazer lances, que podem acelerar o processo de aquisição, caso não os faça vai depender da sorte, pois mensalmente haverá sorteio para contemplação da carta de crédito.

Sobre os custos do consórcio, por se tratar de um serviço prestado, haverá a cobrança de algumas taxas, apesar de não serem cobrados juros propriamente ditos. Entre os custos, está a taxa de administração: é preciso pesquisar, pois essa taxa pode variar muito, de acordo com a administradora. Outros custos, que podem ou não ser cobrados, são a taxa de adesão do plano e o fundo de reserva, que tem o objetivo de cobrir faltas de caixa decorrentes de inadimplência de cotistas ou desistência; caso não seja utilizado, é restituído aos cotistas. Também existe a cobrança do seguro, este é diluído em cada parcela do contrato. As parcelas também são corrigidas por índice de preços ou pelo valor de mercado do bem anualmente.

É preciso ficar atento a outro risco inerente ao consórcio, que é a quebra da administradora. Não há qualquer garantia governamental que indenize os participantes do consórcio, apesar de administradoras terem de ser autorizadas a exercer suas atividades pelo Banco Central. Por esta razão, é necessário pesquisar os antecedentes da empresa. Muito cuidado com fraudes. Uma oferta muito vantajosa pode ser sinal de alerta. Pesquise bem antes de assinar qualquer contrato. O site do Banco Central traz diversas listas e perguntas frequentes para ajudar na escolha da administradora.

O consórcio é indicado para pessoas que não têm um prazo definido para a aquisição do bem, diferentemente da pergunta, onde o prazo é de exatos dois anos. Em comparação a com o recurso que irá ser desembolsado poupando para comprar à vista fica bem evidente a diferença. Investir os recursos poupados significa receber juros ao invés de pagar taxas por um serviço; como neste caso já existe uma data determinada para aquisição do bem, fica simples de calcular a necessidade de recurso a ser aplicado mensalmente para atingir o objetivo, sendo necessário optar por aplicações financeiras dentro de seu perfil de risco e com liquidez que se enquadrem no período de dois anos. Tendo o recurso à vista também lhe dá o poder de negociação do bem direto com a loja, sem a necessidade de financiamento, podendo conseguir bons descontos.

Para complementar a decisão entre consórcio ou poupar, é preciso considerar a disciplina da pessoa em separar um recurso para este fim. No consórcio, as parcelas são obrigações e a pessoa paga para não perder o direito de concorrer aos sorteios do bem. Já poupar significa que a pessoa é a única responsável pelo recurso. Se houver alguma dificuldade e a pessoa não possuir uma reserva de emergência, pode ser que ela utilize parte destes recursos, o que pode inviabilizar a aquisição do bem.

Adilson Marcio Garcia é planejador financeiro pessoal e possui a Certificação CFP (Certified Financial Planner) concedida pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF) E-mail: [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 09 de agosto de 2016.

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