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Dá para usar o ChatGPT como consultor financeiro? Quais são os riscos?

O papel humano de um profissional capacitado para entender os vieses de seus clientes, ajudando-os a compreender seus próprios sonhos e objetivos, ainda se faz – e se fará – necessário

Por Christian Martinewski Dohnert, CFP®

Estatísticos costumam falar que nada é risco zero. O que a população mundial viveu recentemente vem para reforçar esse ponto. Poucos poderiam cogitar que o mundo passaria, em pleno século 21, por uma pandemia que trouxe consequências do calibre das que vivemos. A sociedade mudou de forma estrutural, principalmente no que diz respeito aos avanços da tecnologia e as suas repercussões no ambiente de trabalho.

Tecnologias que até então eram relativizadas se tornaram uma ferramenta fundamental de gestão de crise: as pessoas passaram, do dia para a noite, a trabalhar longe do trabalho.

Recentemente, um novo capítulo dessa contínua evolução ganhou grande proporção: chegou ao alcance de todos o ChatGPT, uma IA que faz complexas conexões personalizadas em segundos. A promessa de uma tecnologia capaz de responder a todas as perguntas de forma escalável fez com que novos questionamentos surgissem: qual o futuro do trabalho? Todos os trabalhadores serão substituídos?

Considere um planejador financeiro, cujo papel é, a partir do entendimento do comportamento, histórico de vida, planos e contexto familiar, ajudar as pessoas a terem uma visão ampla de suas finanças, determinando onde estão agora, onde gostariam de estar no futuro e quais ações devem ser feitas para que os objetivos sejam alcançados.

Simplificar a complexidade do gerenciamento da vida de um ser humano a uma receita de bolo é ignorar toda a subjetividade do inconsciente humano. No mundo dos investimentos, nem tudo se resume a cálculos e taxas de retorno. Existem fatores emocionais que, ao serem ignorados ou simplificados, podem ser a linha entre o atingimento ou não de um sonho. Finanças Comportamentais é o campo do conhecimento que estuda a relação entre razão, emoção e as escolhas relacionadas ao dinheiro.

Todos têm crenças, tendências e princípios – conscientes ou não – que adquiriram ao longo das experiências de vida e que dão a base para o cérebro decidir de forma rápida. Esses fatores, muitas vezes, criam uma tendência inconsciente que influencia, distorce o processo decisório. São chamados de vieses.

Alguns dos exemplos mais relevantes são o viés de confirmação, no qual o indivíduo busca informações que confirmem seu ponto de vista, ignorando dados que o confrontem, e o viés de aversão à perda, que leva a pessoa a atribuir maior importância às perdas do que aos ganhos.

Não há dúvidas em relação ao potencial da nova tecnologia. Viveremos, mais uma vez, uma revolução na sociedade. Entretanto, o papel humano de um profissional capacitado para entender os vieses de seus clientes, ajudando-os a compreender seus próprios sonhos e objetivos, ainda se faz – e se fará – necessário.

No mercado financeiro, há ativos que se complementam e que, juntos, formam uma carteira de investimentos mais eficiente. Basicamente, a combinação desses ativos amplifica seus benefícios. Como as duplas Bebeto e Romário, ou pipoca e refrigerante. Assim é a combinação das evoluções tecnológicas com um planejador financeiro capacitado.

*Christian Martinewski Dohnert é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. Email: [email protected]


Texto publicado na Revista Época em de 11 Junho de 2023.

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