Devo dar uma mesada a meu filho?
Rosinara Carvalho, CFP®, responde:
A mesada deve ser usada como uma ferramenta para a educação financeira das crianças, afinal ela representa um dos primeiros contatos delas com o dinheiro. Deve vir acompanhada de um processo educativo com orientações sobre o valor das coisas para que elas não comprem apenas pelo dinheiro disponível, mas saibam a diferença entre necessidade e oportunidade.
Com isso, é importante que os pais já tenham passado pelo processo da educação financeira para que ensinem e deem bons exemplos aos filhos, falando sempre de forma positiva da sua relação com o dinheiro.
Consequentemente, a mesada pode se tornar uma excelente ferramenta porque ajuda a criança a entender que o dinheiro é limitado, que será necessário fazer escolhas e que, ao fazer escolhas, em alguns momentos será preciso abrir mão de algo. Como resultado, os filhos irão desenvolver autoconhecimento e aprenderão a ter prioridades, gastando o dinheiro quando necessário e guardando para comprar algo que desejam muito.
Também é importante que não ocorram adiantamentos das mesadas para que os filhos aprendam a aguardar pela data combinada para receber o dinheiro, ou seja, se gastarem toda a mesada é necessário esperar a data da próxima.
Aqui também vale lembrar que, além de não dar adiantamento da mesada, os pais não devem comprar para os filhos aquilo que estes deveriam pagar com a mesada nem pagar no lugar dos filhos algo que estes já tinham economizado para comprar, pois eles estão aprendendo a poupar para usufruir de algum benefício futuro.
Assim, coloca-se em prática que a mesada é uma ferramenta educativa com a qual a criança aprende a lidar com a limitação do dinheiro. É importante que os pais não interfiram nesse processo, assim ela conseguirá desenvolver bons hábitos desde cedo que serão levados para a vida adulta.
Outra questão importante: não condicione a mesada a boas notas e bom comportamento. A intenção é que a criança desenvolva a relação dela com o dinheiro e não que ela associe cumprir seus deveres com uma recompensa financeira.
Tenha um projeto financeiro com seu filho: ensine o que é dinheiro, sua importância, a diferença entre gastar e poupar. Após isso, inicie as mesadas.
A partir dos 7 anos, a criança já faz operações matemáticas, logo é um bom momento para começar a mesada, porém cada criança tem seu desenvolvimento, então tenha como referência o momento em que ela começar a demandar mais dinheiro ou pedir diretamente a mesada.
Se no início a criança não possuir ideia temporal, comece com mesadas semanais e, conforme ela for se desenvolvendo, amplie o prazo para quinzenal ou mensal.
Em relação ao valor da mesada, cada criança tem uma realidade socioeconômica. Antes de iniciar a mesada, observe quanto você gasta com o lazer da criança (brinquedos, parques, passeios etc.). Quando você identificar a média desses gastos, estabeleça uma mesada que seja abaixo dessa média – de 50 a 70% dessa quantia, exatamente para que a criança desenvolva o relacionamento dela com o dinheiro.
Na maior parte das famílias quem paga a mesada e mantém a criança com todos os seus gastos é a mesma pessoa, então a mesada perde o sentido se não vier acompanhada de um plano educativo.
Portanto, a resposta é sim, os pais podem dar mesada aos filhos. A mesada é uma ferramenta muito interessante de educação financeira porque com ela a criança aprende a fazer escolhas com o dinheiro e a lidar com as consequências delas. Além de toda a evolução proporcionada à criança, a prática da mesada proporcionará aos pais um aprendizado em relação ao comportamento dos seus filhos e à relação dos filhos com o dinheiro, que evoluirá a cada dia.
Rosinara Carvalho é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no site Época Negócios em 04 de janeiro de 2022.