Consultório Financeiro

É melhor investir em ações via clube ou home broker?

Desde 2006 tenho investido em ações por meio de um clube de investimento. Tive momentos lucrativos, nos quais os 4% de custo eram quase despercebidos. Mas com a redução dos ganhos esse custo pode ser a diferença entre o azul e o vermelho.

Estou no vermelho em comparação ao meu saldo de agosto 2008, mas positivo no período em relação a um CDB. Penso em sacar todo o investimento e passar a atuar pelo home broker, tendo cinco empresas na carteira para me livrar dos 4%. O que acha? (F.P.F.)

Felipe Bichara, CFP®:

Inicialmente, acho importante mencionar alguns pontos fundamentais relacionados a investimentos em renda variável, seja por meio de fundos, clubes ou diretamente em ações.

O primeiro passo é ter em mente que investir em ações requer um horizonte de longo prazo. Além da leitura do regulamento, prospecto e termo de adesão do respectivo clube ou fundo de que você venha a ser cotista, é importante ponderar também outros aspectos: custos envolvidos na aplicação, currículo e experiência da equipe de gestão, critério de análise das empresas e estratégias envolvidas, entre outros.

Há duas formas para remunerar um gestor: taxa de administração e taxa de performance. A primeira refere-se à remuneração por parte dos serviços prestados pelo administrador e gestor. É calculada sobre o patrimônio do clube ou fundo. Já a taxa de performance, cobrada por alguns gestores, refere-se a uma premiação para a equipe de gestão por ter escolhido os melhores ativos para compor um portfólio e ter superado um parâmetro estabelecido sobre o que exceder um “benchmark”.

Adicionalmente, há um critério adotado por alguns investidores antes de escolher um fundo de investimento, que é submeter o fundo a análise quantitativa e qualitativa.

A primeira requer buscar informações disponíveis no mercado sobre rentabilidade histórica, volatilidade, custos, maior e menor retorno mensal, patrimônio líquido do fundo, índice de Sharpe (maneira de medir o quanto de risco foi gerado para o retorno obtido), entre outros. Quanto à segunda, faz-se uma visita à gestora, entrevistas com os responsáveis pela gestão, análise de currículo e preparação de uma “due diligence”.

Dessa forma, nos casos em que o investidor que não dispuser de tempo disponível, é recomendável investir por meio de fundos ou clubes que estiverem alinhados com o seu perfil de investimento.

Passando ao seu questionamento, é possível que você esteja mais diretamente envolvido em escolher e montar o seu próprio portfólio, em vez de continuar a investir via clube de investimentos em ações.

Dito isso, não recomendo “enxergar” a taxa de administração como um passivo para a sua carteira, pois também não existe garantia de que seu portfólio com quatro a seis ativos venha a oferecer uma performance superior dentro de uma janela de 36 meses, por exemplo.

Vale ressaltar, contudo, que tanto fundos de ações como clubes de investimentos proporcionam diversas vantagens: recolhimento do IR apenas no resgate das cotas do clube ou do “FIA”; na preparação do IR, basta mencionar a quantidade de cotas na declaração de bens, enquanto a negociação de ações via mesa ou home broker tem o tratamento tributário diferente, com apuração de resultado mensal e com pagamento do tributo no mês subsequente à venda do ativo e de responsabilidade do investidor.

Diante do exposto, a sua atuação direta na escolha dos investimentos pode gerar uma redução de custos, mas você deixaria de beneficiar das vantagens mencionadas acima decorrentes de investimentos via fundo ou clubes.

Nesse contexto, e considerando que essas decisões têm sempre um fator importante de adequação ao estilo/perfil do investidor, é recomendável que faça uma migração gradativa de parte dos seus investimentos para testar o modelo home broker ajustado ao seu perfil, de forma que você possa analisar de maneira menos arriscada o sucesso das escolhas que vai fazer via home broker comparando-as com a evolução das carteiras que mantiver via fundos ou clubes de investimentos em ações.

Felipe Bichara é Planejador Financeiro Pessoal e possui a Certificação CFP® (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para : [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 2011.

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