É melhor utilizar o cheque especial ou fazer um empréstimo?
Tenho usado o cheque especial nos últimos meses, sempre cobrindo depois de usar uns quatro, cinco dias, quando recebo meu salário. Pelo que entendi, não pago juros nesses casos. Considerando isso, é melhor pegar um empréstimo ou continuar usando o cheque especial?
Vivi Stamm e Guilherme Guidotti CFP®, respondem:
Entre escolher utilizar o cheque especial sem juros ou contratar um empréstimo com juros, a escolha óbvia é a opção sem juros. No entanto, a preocupação é válida, uma vez que, se mal utilizado, o limite do cheque especial pode causar um problema e se transformar numa gigantesca “bola de neve”.
O cheque especial pode ser vantajoso quando as instituições financeiras oferecem isenção da cobrança dos juros por determinado período e os clientes têm recebimentos em data fixa dentro do prazo previamente estabelecido. Nesse caso específico, usar o limite do cheque especial é mais vantajoso, pois quando contratamos um empréstimo pessoal ou consignado existem outros custos, como IOF, juros de acerto e taxa de cadastro.
Mesmo em poucos dias, o valor a ser liquidado no crédito pessoal ou consignado se torna significativamente maior do que o contratado e o correntista pode acabar pagando mais caro do que os encargos do cheque especial.
Nos demais casos, a utilização do cheque especial é indicada apenas para situações emergenciais. Portanto, deve ser evitada pelo correntista.
Se entrar no cheque especial, tome bastante cuidado, pois, se passar o prazo estipulado de carência para pagamento, você arca com juros proporcionais a todo o período em que utilizou o limite, o que, na prática, anula o benefício da carência.
Outra situação que pode decorrer da utilização do cheque especial é você acabar incorporando esse valor como se fosse parte da sua renda mensal, passando a depender desse “quebra-galho” por mais tempo do que o planejado.
Ao utilizar o cheque especial em um mês, a cobrança de juros é feita no mês seguinte e, caso o valor total utilizado mais os juros não sejam inteiramente depositados na conta, o valor a ser cobrado será maior do que o que se tomou emprestado no início, e assim por diante.
Em pesquisa realizada pelo Banco Central do Brasil com 29 instituições financeiras no período de 09/08 a 15/08/2022, constatou-se que o custo efetivo médio para os clientes no cheque especial é de 7,08% a.m. e 131,49% a.a. Já na modalidade consignação, essa média cai para 1,98% a.m. e 27,05% a.a.
Também pesa contra o cheque especial o fato de se pagar o IOF com uma alíquota de 0,38% sobre o valor emprestado do cheque especial, além da cobrança de 0,0082% por cada dia em que a conta ficar negativa.
Existe também a possibilidade de os bancos cobrarem uma tarifa de até 0,25% sobre o valor do limite de crédito disponibilizado que exceder R$ 500,00, que pode ser cobrada no máximo uma vez por mês.
Sendo assim, se a utilização do cheque especial é constante, existe a possibilidade de realizar um empréstimo em outras modalidades com juros menores para a cobertura do limite. Entretanto, essa solução dependerá muito da disciplina do devedor, pois, uma vez que ele torne a utilizar habitualmente o cheque especial, esse problema pode voltar a ocorrer, só que com dois empréstimos para pagar.
Já que o descasamento para o pagamento das contas é de quatro a cinco dias, sugerimos que, antes de utilizar o cheque especial, você avalie as contas que estão sendo cobradas antes do recebimento de seu salário e busque realizar/negociar a alteração das datas de vencimento.
Outra dica é avaliar o impacto das despesas fixas no seu orçamento mensal e quais delas você pode excluir ou reduzir. Um orçamento engessado com despesas fixas proporciona menos flexibilidade em momentos de dificuldade.
Se organizar para poupar uma reserva de emergência também é importante. Assim, em situações especiais, você poderá utilizar essa reserva que poupou.
Você também pode avaliar se consegue aumentar sua renda, seja com alguma atividade empreendedora, seja trabalhando para terceiros.
Lembre-se de que planejar e revisar seu orçamento doméstico é fundamental e, certamente, ajudará você a colocar suas finanças nos “trilhos” para não depender mais de empréstimos, a não ser que seja um empréstimo planejado que não traga dificuldades financeiras no futuro.
Vivi Stamm é planejadora financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]
Guilherme Guidotti Pezerico é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 12 de dezembro de 2022.