Esse é o momento para “dolarizar” os investimentos?
Para quem deseja morar no exterior, mas a renda vai continuar sendo em real, é melhor que seus investimentos estejam em dólar ou em real? Este é o melhor momento para “dolarizar” os investimentos?
Valter Police, CFP®, responde:
Essa é uma questão que exige algumas reflexões, talvez diferentes das que a maior parte das pessoas tem em mente. Em geral, a primeira coisa que vem à cabeça é: será que o dólar vai se valorizar ou não? Com base nessa resposta, viria a decisão sobre dolarizar a carteira ou não.
Na verdade, a análise não deveria se basear nesse fator por dois motivos:
- Ninguém sabe se o dólar irá se valorizar ou não, nem quando, de maneira que decidir com base nisso é uma aposta arriscada;
- Quando se pensa na vida financeira de uma pessoa, o que importa não é o retorno dos investimentos, mas a relação desses retornos com os objetivos de vida e as despesas que a pessoa tem.
A primeira constatação é que não existe o “melhor momento para dolarizar os investimentos”, dadas as imprevisibilidades das taxas cambiais.
Assim, inicialmente é necessário que a pessoa analise seus projetos de vida: deverá morar no exterior para sempre? Retornará para o Brasil? Quando? Qual o nível de despesas mensais estimadas em moeda estrangeira?
Com base nessas reflexões, o ideal é que a pessoa se programe para ter seu patrimônio alocado predominantemente na moeda em que suas despesas ocorrerão, de maneira a reduzir os riscos cambiais envolvidos. Se a decisão é de se mudar definitivamente, o ideal é que o patrimônio migre para a moeda do país da nova moradia integralmente. Se a ideia é que haja um retorno ao Brasil no futuro, uma mescla das duas moedas deve ser utilizada, com a proporção sendo definida em um estudo mais detalhado e individual.
Com isso, parte do patrimônio atuará como um “colchão” para amortecer as oscilações causadas pela variação cambial. Essas oscilações podem ser prejudiciais quando o real se desvaloriza ou benéficas quando ele se valoriza, já que as receitas serão em reais e as despesas, na outra moeda. Quando essas oscilações forem positivas, os recursos deverão ser guardados na outra moeda. Quando forem negativas, utiliza-se esse colchão para fazer frente à mudança.
No processo de dolarização da carteira, de forma a minimizar os efeitos das oscilações, você pode utilizar a estratégia de fazer várias transferências em dias determinados de cada mês, evitando o risco de ter azar no câmbio de um dia específico. Em alguns dos diversos envios de recursos haverá um câmbio mais favorável, em outros nem tanto, o que dará uma cotação média no período.
Além disso, seus investimentos, sejam aqui, sejam em outro país, deveriam seguir a regra número um do bom investidor: diversificação, isto é, o investimento em diversas classes de ativos diferentes, preferencialmente descorrelacionadas ou, em outros termos, que não se valorizem ou desvalorizem juntas, com boa quantidade de ativos dentro de cada classe. Dentro dessa diversificação deve estar a cambial; sendo assim, seus investimentos no Brasil já deveriam ter uma parte atrelada a moedas e ativos estrangeiros. Da mesma forma, ao migrar seus investimentos para outro país, sua carteira lá deve ter como um dos princípios a diversificação, com moedas e ativos globais.
Vale lembrar também que, ao manter uma parte da carteira no Brasil, caso se pense em voltar um dia, e outra parte lá fora, é importante ter a visão de sua carteira como uma só, o que pode direcionar decisões de investimento visando a busca por objetivos de retorno dentro de seus parâmetros de risco.
Por fim, lá fora ou aqui, procure por profissionais qualificados para auxiliar você na montagem e gestão da carteira de investimentos, buscando informações sobre qualificação, registros para a atividade nos órgãos de regulamentação de cada país e histórico profissional. Ao contratar, entenda se existem e como funcionam eventuais conflitos de interesse em sua relação, buscando reduzi-los sempre que possível.
Quando decisões de investimento são tomadas baseadas em apostas sobre as movimentações futuras de ativos, em especial em prazos mais curtos, a tendência é que exista frustração com os resultados. Busque tomar decisões de investimento que se baseiem em seus objetivos e perfil, sem se ater a investimentos da moda e com auxílio profissional competente.
Boas decisões!
Valter Police é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no site Época Negócios em 26 de Abril de 2022