Consultório Financeiro

Estou inseguro sobre o meu perfil de investidor, o que fazer?

“Desde que me tornei investidor, não faz muito tempo, ouvi dos gerentes que me atendiam que eu tinha que preencher um questionário para saber o meu “perfil de investidor”. Várias vezes, para poder aplicar em determinado produto que “estava rendendo mais” respondi aquelas questões de forma mais arrojada. Estou inseguro, o que faço nessa crise?”

Gisele Colombo, CFP®, responde:

A maioria dos investidores já viveu o dilema, ao menos uma vez na vida, de se fazer passar por mais arrojado do que é de fato. Há inúmeras possibilidades para que isso tenha ocorrido e, creia, nenhuma delas desprezível.

Talvez a mais básica seja a real falta de autoconhecimento, pois em muitos casos não há experiência de vida para saber como nos comportaremos frente a um prejuízo em nossos investimentos.

Na sequência, vem a sensação de estar perdendo oportunidades por ser muito conservador, afinal “todo mundo está ganhando menos eu!”. Saiba que isso não tem nada a ver com baixa autoestima ou simples dor de cotovelo. O ser humano somente conseguiu escapar da extinção por ter se organizado e vivido em grupos, faz parte de nosso instinto de sobrevivência sentir-se acolhido ou pertencer a um grupo – e nesse caso, o grupo dos investidores que estão ganhando dinheiro.

E um outro motivo que nos leva a atuar de forma mais arriscada é a falta de planejamento financeiro. Sim, todos ouvem falar sobre diversificar os investimentos, mas infelizmente são poucas as pessoas que entendem que o investimento faz parte de um contexto mais amplo, do contexto de vida (além de predisposição a risco é necessário ter condições de assumir perdas).

Focando no problema da desorganização financeira, se uma pessoa não tem um orçamento relativamente bem feito, se não tem alguns planos para o futuro e, portanto, não definiu valores para seus projetos, certamente corre o sério risco de ficar desamparado em uma crise.

E finalmente chegamos nela, A Crise!

Tendo como premissa que você tem uma ideia de quanto ganha e quanto gasta por mês, que tem uma reserva de emergência para aguentar alguns meses sem sua renda familiar e, ainda por cima, tem um plano de longo prazo. Por que todas essas condições são importantes? Para manter a racionalidade nesse momento.

Enfrentamos um problema global que não se refere a guerras geopolíticas e nem a um setor específico da economia. Trata-se de uma questão de saúde, deflagrada por um vírus talvez não tão letal, porém muito contaminante e a uma velocidade não vista até então. A melhor forma de tentar controlar seus efeitos tem sido o isolamento social, com reflexos profundos em todos os setores da economia, no mundo todo. E, o que mais nos incomoda, é que não sabemos quando isso acaba e como conseguiremos reconstruir tudo.

O mercado financeiro, que sempre antecipa as preocupações sobre a economia, expôs todas as nossas dúvidas nas últimas semanas, quando os preços de todos os ativos passaram por momentos disfuncionais, afinal, algumas empresas ficaram com suas ações valendo menos do que o dinheiro em caixa!

Nesse momento, se torna absolutamente necessário focar em suas decisões passadas e lembrar a razão delas. Se investiu em ativos de risco porque havia uma expectativa de melhores retornos no longo prazo – e de fato havia – e se esses investimentos não comprometem os recursos de curto prazo para sobrevivência, não se arrependa e nem se desespere.

Quem tem mais de cinquenta anos e viveu no Brasil nas décadas de setenta a noventa, viu o mundo acabar várias vezes, e depois tudo era reconstruído e falhas consertadas.

Portanto, tenha certeza de que esta crise irá terminar, que algumas empresas realmente não resistirão, mas que a maioria delas retomará suas atividades, precisará compensar a demanda que ficou reprimida, novos negócios surgirão, fruto da criatividade que decorre da necessidade de tempos turbulentos.

Dito isso, faça as pazes com seu perfil de investidor, não faça realocações desnecessárias e nem se desespere com os preços. Use este momento como um grande aprendizado, tenha foco em seu planejamento financeiro e somente reajuste seus investimentos para garantir sua reserva de segurança. Em breve, terá se orgulhado de sua transição segura neste momento.

Gisele Colombo é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected].

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 13 de abril de 2020

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