Fundo de renda fixa com taxa de administração de 1% é caro?
“Li um artigo falando que com a queda da taxa de juros, as taxas de administração dos fundos ficaram altas. Eu tenho fundo de Renda Fixa e fiquei com uma dúvida: com taxas de juros tão baixas faz sentido pagar 1% de taxa de administração? ”
Bruno R. Pereira, CFP®, responde:
Prezado leitor, muito atual essa sua preocupação, com a queda recente da taxa de juros no Brasil, que faz parte de um fenômeno global e que agora, pelo que tudo indica, veio para ficar, os custos fixos têm tido um peso cada vez maior no retorno final dos investimentos.
Na maior parte do ano de 2016 a taxa SELIC ficou em 14,25%, se você já tivesse esse fundo na sua carteira a taxa de administração de 1% representava por volta de 7% do CDI, ao passo que na taxa básica atual de juros você está pagando quase 17%CDI para o mesmo serviço.
Porém, antes de responder sua pergunta é preciso entender um pouco melhor as modalidades de fundos para então chegarmos à conclusão se vale a pena ou não pagar por essas taxas aos gestores. Vamos concentrar nossa análise na categoria de fundos que você comentou, a de renda fixa. Segundo à classificação CVM existem 4 tipos de fundos nessa categoria (Renda Fixa Curto Prazo, Renda Fixa Referenciado, Renda Fixa Simples e Renda Fixa Dívida Externa). Já pela classificação da ANBIMA, que é uma associação de entidades do mercado financeiro e de capitais, existem categorias, baseadas no tipo de gestão (ativa ou passiva) e na sensibilidade às alterações nas taxas de juros, e subcategorias, divididas em função da exposição a risco de crédito (soberano, grau de investimento e crédito livre). No site da ANBIMA você encontra uma cartilha detalhando cada uma delas.
Com essa distinção feita fico mais confortável em te dar a resposta se ainda vale a pena pagar 1% de taxa de administração, e na minha opinião a resposta é : depende. Caso estejamos falando de um fundo de renda fixa de crédito estruturado ativo com objetivo de superar o índice de referência e que invista em empresas com risco de crédito não trivial como multinacionais conhecidas do grande público e empresas de capital aberto a taxa de administração de 1% ao ano pode até fazer sentido, desde que o retorno líquido de taxas compense o risco que você está tomando. Para manter uma equipe de analistas que acompanham diferentes setores e emissões de dívidas e muitas vezes até equipe de advogados o gestor tem um custo e é natural que ele seja remunerado por esse serviço através da taxa de administração.
Por outro lado, caso o seu fundo de renda fixa seja um fundo passivo que tenha objetivo apenas acompanhar algum índice de referência como por exemplo o CDI, ou até um fundo de renda fixa ativo, objetivo de superar o índice, mas de classificação ANBIMA Baixa Duração Grau de Investimento, que se limita a investir 80% da carteira em títulos públicos federais e ativos de baixo risco de crédito, a taxa de 1% não vale a pena já que o escopo de atuação do gestor é mais limitado. Para fundos com esse propósito hoje no mercado já existem opções que não cobram nada de taxa de administração.
Embora para diminuição de taxa o processo seja bem simples, pois o administrador não precisa convocar uma assembleia para diminuir taxas, não é muito comum que isso aconteça no mercado, pois isso implica queda direta na receita dos administradores e gestores de fundos. O mais comum é que novos fundos sejam criados com taxas mais competitivas e por isso é muito importante que você e seu planejador estejam atentos a essas mudanças no mercado.
Com esse novo patamar de taxa de juros e a sofisticação do mercado com inúmeras opções de investimento é muito importante que você tenha a ajuda de um profissional autorizado para atualizar seus investimentos e adequá-los aos seus objetivos pessoais de curto, médio e longo prazo.
Bruno Pereira é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 04 de novembro de 2019.