Mais da metade do meu salário é variável. O que devo fazer?
Jaques Cohen, CFP®, responde:
Caro leitor, obrigado por essa importante pergunta. Quando focamos a conversa de planejamento financeiro naquilo que recebemos, é comum se perguntar se a nossa renda está alta ou baixa, só que esse não é o único aspecto que mexe com a gente. A falta de previsibilidade ou regularidade da renda podem trazer um stress elevado e atingir a nossa saúde e produtividade no trabalho.
Trabalhar sem a certeza de um ganho fixo faz com que, muitas vezes, a gente tire o foco do longo prazo, passando a tomar decisões sem um horizonte claro em mente. Em outras palavras, nossas decisões deixam de ser estratégicas e passam a ser voltadas a colocar comida na mesa hoje.
Essa é uma situação que mexe muito com as angústias dos profissionais comissionados, como também dos autônomos e empreendedores.
Ela exige um esforço extra para pensar no longo prazo, fora do túnel que pode aprisionar a mente nessas situações. Muitas vezes acabamos apagando incêndios no dia a dia, mas não paramos para ter um olhar panorâmico das nossas atividades, dos nossos esforços e, consequentemente, dos nossos ganhos.
Por isso, sugiro que levante um histórico da sua renda. Quanto você recebeu — depois de impostos — mês a mês nos últimos dois ou três anos? Se estiver exercendo essa função há menos tempo, converse com seus colegas e busque informações.
Com esse histórico em mãos, tente entender como a renda varia ao longo do ano. Se existem meses nos quais costuma ganhar mais, prepare-se para guardar mais neles também, planejando-se para os meses em que ganha menos.
Qual é a média mensal desses ganhos? Essa será uma referência importante, mas é bom ter em mente algo mais conservador. É importante também fazer o possível para não contar com um dinheiro como certo antes de saber se vai recebê-lo ou não, principalmente se você identificar que o seu caso não envolve apenas uma variação que se repete sempre entre os meses do ano, mas também uma grande incerteza.
De todo modo, para que seu panorama financeiro fique mais claro, mesmo que a sua preocupação seja com os recebimentos, não há como escapar de olhar também as suas despesas. Não apenas aquelas que ocorrem todo mês, como também as despesas irregulares — material escolar, IPVA, seguro do carro, presentes, roupas, decoração, viagens etc.
Muitas vezes, a gente esquece de incluir espaço para esse tipo de despesa no planejamento e acaba sendo pego de surpresa desnecessariamente. Fazer esse levantamento vai te dar uma ideia mais real do seu padrão de vida, para compará-lo com os seus ganhos. Ao fazer essa comparação, uma boa dica é vincular alguns de seus desejos de consumo a uma meta de renda mínima.
Antes de terminar, reforço que entre as suas principais metas, se ainda não possui um colchão de segurança, deve priorizar a criação de um. Como a sua renda é mais imprevisível, ele precisa ser maior do que normalmente é recomendado. Pense em algo como 12 meses de despesas. Se possuir dívidas ou se esse objetivo parece distante, coloque metas para atingi-lo passo a passo. Esse colchão é importante não apenas financeiramente como também pelo alívio psíquico que proporciona.
É muito comum entrar na rotina e se esquecer dessa administração geral, mas pensar no fluxo de entradas e saídas dos seus recursos é pensar sobre seus esforços e seu tempo e isso se mostra importantíssimo para quem busca maior qualidade de vida. Caso encontre dificuldades, considere contar com um profissional que possa auxiliá-lo nesse processo.
Jaques Cohen é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].
As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected].
Texto publicado no jornal Valor Econômico em 21 de maio de 2018