Morar de aluguel e investir ou comprar imóvel à vista: o que vale mais a pena?
É preciso considerar premissas como o fato de já possuir os recursos para pagar o imóvel de interesse à vista, sem necessidade de financiamento
Adriana de Lucca, CFP® responde:
A pergunta do(a) leitor(a) tem sido uma das mais frequentes e relevantes quando se fala em planejamento financeiro e, certamente, é uma dúvida de muitas pessoas.
Para responder a essa pergunta, vamos considerar algumas premissas com foco nos detalhes fornecidos pelo leitor, como, por exemplo, o fato de já possuir os recursos para pagar o imóvel de interesse à vista, sem necessidade de financiamento.
A primeira sugestão é fazer uma pesquisa para escolher o tipo de imóvel que atenda às suas necessidades, considerando localização, tamanho e outras características que julgar importantes na escolha da moradia. Tendo identificado o tipo desejado, verifique os valores para venda e locação, e então será possível avaliar os aspectos financeiros para a tomada de decisão.
Se a opção for por utilizar o dinheiro para comprar a residência, a análise financeira deve considerar a perda de receita ao abrir mão dos rendimentos do valor investido na compra. Em contrapartida, avalie também uma possível valorização do preço do imóvel após a aquisição, o que é mais difícil de calcular, mas é possível inferir com base no comportamento histórico dos preços da região pretendida ou na construção de projetos urbanísticos como parques, metrô etc. Sites especializados costumam calcular um índice conhecido como a “inflação dos imóveis”, que em 2022 indicou que os imóveis subiram, em média, 6,12%.
Ao optar pelo aluguel, precisamos considerar fatores relacionados aos contratos de locação, como os índices de correção e multas contratuais, além da disponibilidade de imóveis para alugar na região pretendida, razões que podem levar ao encarecimento dos custos nas renovações ou mudanças futuras.
Nesse caso, é importante decidir o que será feito com os recursos financeiros que seriam utilizados para a compra. A sugestão seria aplicar o dinheiro em um investimento com baixo risco, considerando que esse recurso é a garantia de moradia da família. Aplicações em CDB de instituições de primeira linha, tesouro direito ou fundos de investimentos com baixas taxas de administração podem ser boas opções.
Se o pagamento dos aluguéis não for sair das receitas mensais do leitor, e sim dos rendimentos das aplicações financeiras, será necessário buscar uma que permita retiradas periódicas adequadas ao fluxo dos pagamentos do aluguel. Além disso, é importante manter parte da rentabilidade, o equivalente à inflação, junto ao saldo do investimento, para evitar a perda do poder de compra com o passar dos anos.
Por exemplo, supondo que o leitor tenha R$ 500 mil para a compra do imóvel, podemos fazer alguns cálculos aproximados para o período de um ano. Para compensar o efeito da inflação, que, em 2022, foi de 5,79% no ano, o saldo precisaria ser atualizado para, aproximadamente, R$ 530 mil. Portanto, se aplicássemos os recursos com uma rentabilidade média de 12% ao ano, a aplicação teria rendido em torno de R$ 50 mil, já descontado o imposto de renda. Assim, o rendimento líquido de impostos e inflação seria de R$ 20 mil. Com esse valor, o leitor conseguiria pagar o aluguel do mesmo imóvel?
Seja a opção inicial pela compra ou pelo aluguel, o leitor pode consultar um planejador financeiro para acompanhar as variações do mercado imobiliário e de investimentos e reavaliar periodicamente essa decisão, buscando aquilo que é mais adequado para o seu caso.
Adriana De Lucca é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 10 de Abril de 2023.