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O que é renda fixa digital? Como posso investir?

Bruno Ramacini, CFP®, responde:

A renda fixa digital é um investimento de renda fixa que oferece previsibilidade de ganhos com a transparência e tecnologia blockchain, misturando assim o tradicional ao tecnológico.

Para entender como isso funciona, caro leitor, é importante entender o que é a tecnologia blockchain. Ela funciona como um cartório, registrando os dados do investidor em renda fixa com o emissor do título. Essa mesma tecnologia registra as transações do famoso Bitcoin, do qual quase todos já ouviram falar, embora muitos ainda não invistam nessa moeda virtual.

Algumas companhias têm emitido títulos de renda fixa nesse formato – como em todo título de renda fixa, o investidor empresta dinheiro para uma empresa com a promessa do recebimento acrescido de juros – para oferecer o ganho em renda fixa de uma maneira menos burocrática do que no mercado financeiro tradicional.

Nesse formato, no qual não há necessidade de intermediários, como bancos e corretoras, a instituição emissora tem uma menor carga de custos, podendo oferecer assim um maior pagamento de juros para aqueles que investirem com ela.

Na renda fixa digital, ainda não são negociados investimentos tradicionais, como CDBs (Certificados de Depósito Bancário), LCIs e LCAs (Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio) e alguns dos outros investimentos que os investidores estão habituados a fazer.

Por ora, o investidor consegue realizar aplicações como Cotas de Consórcios, que é um grupo de investidores que se reúnem para comprar um bem. A renda fixa digital auxilia com a empresa comprando as cartas contempladas do consórcio e criando, assim, um ativo (investimento) registrado no blockchain.

Também é possível investir em Contratos de Energia. Nesse caso, os tokens de energia terão preço e volume pré-negociados, beneficiando o investidor com a antecipação dos recebíveis dessa empresa de energia, de maneira muito similar ao que ocorre em investimentos como CRIs e CRAs (Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio). Essa modalidade permite que a empresa emissora antecipe seus recebíveis e pode oferecer bons retornos ao investidor.

A renda fixa digital pode oferecer elevados ganhos aos investidores, por facilitar operações a um custo mais baixo e que antes não poderiam ser realizadas através do mercado de investimentos tradicional. Investidores e emissores ganham, enquanto, nesse caso, quem fica para trás são os grandes bancos.

Alguns títulos negociados em empresas como a Mercado Bitcoin e outras plataformas prometem ganhos de até 17%. Assim como os criptoativos, são também investimentos que possuem isenção no imposto de renda para operações de até R$ 35 mil por mês, fator que soma ainda mais para a rentabilidade do ativo.

Mas é preciso muito cuidado. O investidor deve estar ciente de que são investimentos não garantidos pelo FGC e, em sua maioria, emitidos por empresas de pequeno porte, que não conseguiriam emitir títulos no mercado tradicional.

Logo, o investidor fica descoberto de qualquer garantia extra, sendo a segurança do seu investimento atrelada ao compromisso da empresa emissora do título de renda fixa no pagamento de suas dívidas. Também precisamos lembrar que a tecnologia blockchain, embora considerada segura, ainda é recente, e alguns riscos podem não ser 100% conhecidos.

Com isso, essa nova modalidade de investimentos pode vir a figurar no planejamento financeiro e de investimentos do brasileiro. O investidor deve sempre se atentar aos retornos e riscos trazidos por essa classe, sendo sempre sugerido iniciar com um percentual pequeno do portfólio total de investimentos.

Bruno Ramacini é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Texto publicado no site Época Negócios em 02 de Outubro de 2024

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