O que fazer na empresa que não tem programa de treinamento?
“Quero fazer um curso de longa duração, mas a empresa não possui programa de treinamento, incentivo ou qualquer política de auxílio aos funcionários. Vale a pena pegar empréstimo para pagar? O que levar em conta? Financio tudo ou uma parte?”
Wander Vicente, CFP®, responde:
Predominantemente (mas não como regra), são as grandes empresas nacionais ou multinacionais, com alto poder financeiro, que oferecem esse tipo de benefício. Considerando que uma minoria das empresas do nosso país tem as características acima, é válido que você tome propriedade sobre sua carreira e invista na sua qualificação e atratividade para o mercado.
Contudo, antes de realizar um empréstimo de longo prazo para um curso de longa duração, alguns pontos devem ser considerados:
1. Reflita sobre o alinhamento do curso com o seu objetivo profissional. É um erro muito comum as pessoas escolherem um curso por acharem relevante e ele não ter nada a ver com seus objetivos de carreira. Pensar sobre isso irá contribuir para que você não se arrependa depois e ainda garante que está fazendo um bom investimento;
2. Considere também a qualidade do curso. Outro erro comum é escolher o curso somente pela viabilidade financeira. Você está investindo na sua carreira e, como todo investimento, pode ter resultados positivos ou negativos que, neste caso, está associado à sua qualificação e crescimento profissional (inclusive financeiro);
3. Sobre a possibilidade de pagar à vista, parcialmente financiado ou totalmente financiado, a resposta é “DEPENDE”:
a. Caso você tenha dinheiro suficiente investido para pagar o curso à vista, deve comparar o rendimento líquido dos seus investimentos contra a taxa de juros real do financiamento – se o retorno anual dos seus investimentos for menor, é melhor você liquidar a maior parte possível do valor do curso. Nunca se esqueça de negociar o máximo possível para pagamento à vista (lembre-se que existe ainda a possibilidade de aplicar o seu dinheiro em investimentos mais rentáveis que os que você tem hoje para reavaliar essa comparação);
b. Caso você tenha dinheiro suficiente investido para pagar o curso parcialmente, faça a mesma reflexão acima e não deixe de negociar o máximo possível um desconto, considerando o valor de entrada – antes de utilizar todo o seu recurso investido como entrada, atente-se ao restante deste artigo, em especial ao item 8;
c. Se você não tiver nenhum dinheiro para pagar o curso, os passos abaixo te ajudarão!
4. Antes de fazer uma nova dívida, tenha claro qual a sua capacidade de pagamento mensal para este novo curso. Elabore seu orçamento mensal e seu fluxo de caixa pessoal para um período de, pelo menos, 12 meses e verifique o quanto do seu rendimento mensal líquido está comprometido e o quanto está disponível;
5. Conheça os tipos de financiamentos disponíveis no mercado e não escolha por impulso. Simule as parcelas de financiamento com a instituição de ensino, empresas de crédito estudantil, cooperativas de crédito a que você possa ter acesso, converse com a área de Recursos Humanos da sua empresa (caso você possa utilizar um empréstimo consignado privado), com o seu banco, FIES (se for o caso) e compare com sua capacidade de pagamento mensal;
6. Taxa de juros: nunca se esqueça de avaliar a taxa de juros real da operação, correspondente ao Custo Efetivo Total (CET), na hora de comparar as possibilidades de financiamento. Normalmente, o que é apresentado ao público é a taxa nominal, dando uma falsa primeira impressão. Cuidado também com o que é divulgado como taxa de juros zero – a famosa frase “parcelamos sem juros” –, sendo que na ampla maioria das vezes trata-se de uma estratégia comercial para tornar negócios mais atrativos e os juros estão disfarçados no desconto para pagamento à vista;
7. É importante avaliar o montante total que você pagará pelo curso ao término do seu financiamento para completar as etapas de avaliação;
8. Após todas estas etapas, faça mais uma reflexão: “Caso eu seja demitido ou peça demissão, se eu ficar doente ou qualquer outro imprevisto acontecer, como eu farei para pagar as parcelas do meu financiamento?”. Um dos principais fatores que pode atrapalhar seus planos é a falta de preparo para imprevistos e situações adversas. É importante separar uma parte dos seus rendimentos mensais para formar uma reserva de emergência ou criar um “plano B” para evitar transtornos e endividamentos.
Wander Vicente é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].
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Texto publicado no site Época Negócios em 25 de dezembro de 2018