Previdência com custo elevado ou Tesouro Direto?
Tenho 50 anos, uma previdência privada que me garante 6% de juros ao ano mais correção pelo IGP-M. Atualmente, contribuo com R$ 1.344 por mês (deste valor, desconta-se 8% de taxa de carregamento). Hoje, tenho de valor total no fundo gerador de contribuições R$ 57 mil e o plano de previdência está programado para eu receber o benefício em 2034. Terei melhores ganhos utilizando o valor de R$ 1.344 por mês na compra de títulos do Tesouro Direito no papel IPCA + juros (que hoje está em 6% ao ano) ou continuo com este plano de previdência?
Fabio Marques, CFP, responde:
A garantia de rendimento de IGP-M mais 6% ao ano torna seu plano de previdência atual bem atrativo. Apesar disso, ressalto que a taxa de carregamento cobrada sobre as contribuições, em conjunto com a taxa de administração do fundo, pesará negativamente ao longo da fase de acumulação. A cobrança de 8% sobre cada aporte realizado é praticamente o rendimento líquido de um ano em uma aplicação conservadora, num ambiente de juros mais baixos e já projetado para o futuro. Em um mercado cada vez mais competitivo muitas entidades de previdência já não cobram a taxa de carregamento.
Além disso, com o benefício da portabilidade, o investidor que estiver insatisfeito com as taxas e gestão do plano atual pode migrá-lo para outra instituição com melhores condições. Com relação a escolha do índice que será utilizado como referência em sua aplicação, tanto o IGP-M quanto o IPCA vão garantir o poder de compra, protegendo-o dos efeitos nocivos da inflação. Considere que ao longo do tempo, os índices acabam convergindo para um mesmo patamar.
O Tesouro IPCA + juros tem sido uma das principais escolhas entre aqueles que pretendem investir no longo prazo pensando em aposentadoria. Taxas reais elevadas ainda estão disponíveis nos papéis indexados à inflação do governo, mas não há garantias de que as taxas praticadas hoje serão as mesmas praticadas amanhã, pois os preços dos títulos estão sempre se adequando as condições de mercado e você, optando pelas compras mensais desses títulos, assumiria tal risco. Os títulos mais longos, por exemplo, já estão com taxas inferiores a IPCA mais 6%. Lembre-se que a compra no Tesouro Direto também possui custos.
Sobre as alíquotas de IR, estas podem ser mais vantajosas para aplicações de longo prazo na previdência, via regime de tributação regressiva definitiva, que diminui de acordo com o tempo de aplicação, alcançando 10% após 10 anos.
Os prazos são contados a partir da data do aporte até a data do respectivo pagamento. Assim sendo, se você optar por receber o benefício em forma de renda, será como se cada pagamento mensal fosse feito das contribuições mais antigas para as mais recentes, favorecendo a melhor alíquota.
Utilizando as variáveis descritas, os 6% de ganho real sobre R$ 57 mil investidos, mais as contribuições mensais de R$ 1.344 descontada de 8% do carregamento sobre cada contribuição durante 18 anos, equivaleria a 5,46% de ganho real em um investimento que não haja a mesma cobrança de carregamento, mantendo-se prazo e valores supracitados.
Assim sendo, mesmo uma carteira formada por títulos como o Tesouro IPCA + juros teria dificuldades em superar esses resultados no acumulado final. Reforço que a garantia de IGP-M mais 6% e o horizonte de investimento fazem toda a diferença no seu caso, auxiliando na diluição do carregamento ao longo da vida do produto.
Verifique se a garantia de taxa juros real de 6% se estende para o período dos benefícios, pois, em caso negativo, sua renda futura pode ser prejudicada.
Antes de finalizar, parabenizo-o pelo seu poder de poupança. Qualquer planejamento financeiro efetivo abrange o equilíbrio entre receitas e despesas e o investimento de longo prazo. Tenha certeza que seu esforço no presente garantirá a sua tranquilidade financeira no futuro.
Fabio Marques é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF). E-mail: [email protected]
Texto publicado no jornal Valor Econômico em 26 de setembro de 2016.