Qual a melhor forma de saldar dívidas com juros altos?
Marcus Vinicius, CFP®, responde:
A ampla maioria da população brasileira apresenta endividamento, seja por meio de empréstimos pessoais, financiamentos ou cartões de crédito. Conforme divulgado em novembro de 2023 pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), cerca de 76,6% da população brasileira possui algum endividamento, muitas vezes sujeito a elevadas taxas de juros.
Existem algumas formas de reduzir o endividamento, principalmente os que possuem juros mais elevados. Primeiramente, é necessário ter um bom planejamento financeiro pessoal e familiar: colocar em uma planilha todas as fontes de renda, gastos fixos e variáveis, e descrever os valores totais de contratos de financiamento, empréstimos ou cartão, saber quais os valores totais da dívida e quais os juros efetivos cobrados no contrato.
Descrever todas as suas entradas e saídas será importante, pois dará uma noção mais clara da sua capacidade financeira. Muitas vezes o cartão de crédito ou cheque especial é incorporado em sua renda como se fosse parte do seu salário, quando na verdade o cartão de crédito ou cheque especial tem que ser usado apenas em caso de emergência.
Essa visão geral da vida financeira trará uma oportunidade para você reavaliar os gastos e iniciar uma reserva financeira de emergência, visto que imprevistos acontecem, como uma manutenção inesperada de um carro, problemas de saúde ou gastos de início de ano como IPVA, material escolar, matrícula de escola ou faculdade, que não podem ser adiados. Uma reserva financeira de emergência evitará que você entre em dívidas que muitas vezes podem ser elevadas devido à urgência e necessidade do recurso naquele momento. Essa reserva pode evitar o uso contínuo do cheque especial ou cartão de crédito.
Uma reserva de emergência ideal seria um valor próximo a 6 a 12 vezes o seu salário mensal, ou seja, se você tem um salário de R$2.000,00, considerado 6x, teria que possuir uma reserva de R$12.000,00; considerando 12x, o valor seria de R$24.000,00. Para uma reserva de curto prazo, existem investimentos com liquidez imediata e baixo risco, como CDB DI, que pode ser encontrado em qualquer instituição financeira ou corretora. É preciso lembrar que uma reserva de emergência de 6 a 12 vezes o valor do salário mensal não é uma regra, é o ideal. Se hoje você não tem capacidade de ter esse montante, comece aos poucos. O importante é criar o hábito e começar.
Após você ter em mãos todas as informações, priorize as dívidas mais caras, como por exemplo cheque especial ou cartão de crédito. No caso específico do cartão, evite pagar o mínimo da fatura, visto que isso só posterga o pagamento e protela uma dívida altíssima, pagando um juro muito elevado. O ideal é somar todas as dívidas com juros mais caros e o valor total do cartão, se existir, e buscar uma linha de crédito mais barata. Uma alternativa é começar pelo empréstimo consignado, que é uma linha de crédito que tende a ter uma taxa menor de juros devido ao fato de as garantias serem maiores. Uma troca de dívida faz com que o seu saldo devedor seja menor e, consequentemente, o custo do crédito também. Caso não tenha uma linha como essa, procure pesquisar linhas de crédito na instituição que tem relacionamento. É importante avaliar as alternativas e fazer comparações para entender se vale a pena a troca por outro empréstimo.
É importante ressaltar que um bom planejamento financeiro será uma ferramenta de muita utilidade em sua vida financeira, pois trará disciplina e controle do seu orçamento, evitando o comprometimento de renda e um consequente endividamento. Se você possui dúvidas de como elaborar um planejamento financeiro, busque cursos com esse tema ou consulte um planejador financeiro pessoal CFP para auxiliá-lo em um diagnóstico e elaboração do planejamento financeiro.
Marcus Vinicius Novais é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no jornal Época Negócios em 12 de Março de 2024