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Qual é o impacto dos eventos climáticos no Rio Grande do Sul para os Fiagros de terra?

Joel Rodrigues, CFP®, responde:

A catástrofe natural causada pelas fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul no final de abril mobilizou todo o país e foi destaque nos principais veículos de informação do mundo. Além do impacto humanitário incalculável, com dezenas de mortos, centenas de feridos e milhares de desabrigados, a tragédia afetará diversos setores da economia.

Segundo dados do IBGE, o Rio Grande do Sul é responsável por 69% da produção nacional de arroz e é o segundo maior produtor de soja do país, fazendo com que a agropecuária represente 60% do PIB gaúcho. O agronegócio não é apenas fundamental no Rio Grande do Sul, mas também desempenha um papel crucial na economia brasileira, representando 25% do PIB nacional.

Essa significativa contribuição econômica atrai investidores, e o mercado financeiro oferece diversas formas de investir no setor. As opções incluem ações de empresas do agronegócio, bem como títulos de renda fixa, como LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio) e CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio). Em 2021, uma nova modalidade de investimento surgiu: o Fiagro (Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas do Agronegócio).

Além de proporcionar uma oportunidade de ingressar em um dos setores mais importantes da economia, os Fiagros oferecem aos investidores isenção de imposto de renda para pessoas físicas sobre os dividendos, desde que certas regras sejam respeitadas. Assim como os fundos imobiliários, os Fiagros também têm uma divisão semelhante. Existem os Fiagros de papel, que investem majoritariamente em ativos financeiros ligados ao agronegócio, como os CRAs.

Os Fiagros de terra podem rentabilizar o patrimônio dos investidores por meio de diversas estratégias. Uma delas é o Buy to Lease, que consiste em adquirir e arrendar a terra para terceiros. Outra é o Land Equity, que busca retornos com a valorização das terras. Além disso, há a estratégia Sale & Leaseback, onde a terra é adquirida e arrendada de volta ao mesmo vendedor.

Esses diferenciais atraíram uma quantidade expressiva de investidores. Segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o patrimônio líquido dos Fiagros cresceu 103% entre dezembro de 2022 e o mesmo mês de 2023, alcançando R$ 21,3 bilhões.

No entanto, diante da calamidade causada pelas enchentes no Rio Grande do Sul, muitos investidores estão preocupados com os impactos desses eventos, especialmente nos Fiagros de terra. O principal risco está associado à inadimplência. A queda no volume de produção, a diminuição da área plantada e a limitação de acesso às áreas danificadas ou inundadas provavelmente forçarão os produtores a renegociarem suas dívidas, visando prorrogar os prazos e modificar as condições de pagamento de seus empréstimos e financiamentos. Isso pode resultar em atrasos nos pagamentos dos arrendamentos de terras, afetando diretamente os rendimentos dos Fiagros de terra.

Além disso, a desvalorização das propriedades rurais nas áreas mais afetadas pode diminuir o valor do patrimônio dos Fiagros de terra. A recuperação das terras danificadas exigirá investimentos significativos em infraestrutura e tecnologias de resiliência climática, o que pode aumentar os custos operacionais e afetar a rentabilidade desses fundos no curto a médio prazo.

Enquanto os Fiagros de terra oferecem oportunidades atraentes para investidores, a recente tragédia no Rio Grande do Sul serve como um lembrete dos riscos associados ao agronegócio em face das mudanças climáticas. A capacidade de adaptação e resiliência do setor será fundamental para sustentar seu crescimento e atratividade no longo prazo.

É essencial destacar que períodos de incerteza e crises podem contribuir para o amadurecimento do mercado. Portanto, é crucial considerar diversas opções de investimento ao montar um portfólio, desde que estas estejam alinhadas com a tolerância ao risco e os objetivos do investidor, permitindo assim a diversificação da carteira.

Joel Rodrigues é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. 

Texto publicado no site Época Negócios em 25 de Setembro de 2024

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