Consultório Financeiro

Qual o risco de investir no Tesouro Direto?

Ouço muito sobre Tesouro Direto e queria saber se esse investimento tem riscos. Posso resgatar o dinheiro a qualquer momento?

Jaques Cohen, CFP, responde, com a colaboração da advogada Helena Rippel Araujo:

Caro leitor, começo aqui com um comentário sobre uma confusão muito comum. O Tesouro Direto não é um investimento, é uma plataforma na qual você encontra títulos do governo para investimento. Tem esse nome porque dá acesso direto à Pessoa Física para comprá-los.

Gosto de pensar em títulos como a contraparte de um empréstimo. Ou seja, quando você compra um título de alguém está emprestando dinheiro para ele. 

Em um título bancário (como CDB, LCI, LCA), você empresta para um banco. Para empresas, por exemplo, existe um instrumento chamado debênture. Para o governo, existem títulos públicos.

O primeiro risco portanto seria o de não receber de volta o que investiu. É um risco baixo no caso dos títulos públicos brasileiros.

Vale dizer é menor do que o risco de títulos privados, que dependem da solvência de uma única instituição ou da garantia dada pela Associação do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).

Em uma situação improvável, onde o governo não tenha dinheiro para pagar o que te deve, entende-se que bancos, empresas, moeda e pessoas também estarão em crise. Neste cenário extremo é provável que o FGC já esteja comprometido.

Públicos ou privados, títulos podem valorizar ou desvalorizar conforme movimentos de mercado e esse é um risco diferente para cada papel.

No Tesouro Selic, se a taxa base da economia (SELIC) cair por determinação do Banco Central, o esperado é que o título apenas passe a render menos, mas não desvalorize. Por isso costuma ser o mais recomendado para quem está construindo um colchão de segurança.

Outros papéis têm risco mais significativo de desvalorização. Explico a partir do Tesouro Prefixado, que promete um rendimento pré-determinado com base nas expectativas do que vai acontecer com a economia.

Digamos que você adquiriu este título com taxa de 9% ao ano.  No dia seguinte a sua aquisição as expectativas mudaram e o governo passa a pagar 10% a.a por ele.

Em sua pergunta, você questiona se pode resgatar o dinheiro a qualquer momento. Sim, efetivamente você pode, mas para fazer isso teria que vender seus títulos antes da data de vencimento.

Se já existem exatamente os mesmos títulos pagando 10% ao ano, quem em sã consciência os compraria de você a 9%? Por isso é aplicado um ajuste, fazendo com que seu valor de resgate seja menor.

O contrário também é verdadeiro, se a taxa pré-fixada caísse para 8%, você teria um investimento precioso em mãos e receberia um ágio por ele no momento de venda.

Com o Tesouro IPCA (inflação) o raciocínio é o mesmo, já que ele também possui um componente pré-fixado. Ou seja, estabelece termos como IPCA + X%, onde X% é o componente fixo.

Como falamos dos três tipos de título, vale destacar suas variantes, com datas de vencimento diferentes e termos para pagamento de juros. Data de vencimento é àquela na qual o dinheiro volta para você se não vender o título. Já os juros podem acumular até o resgate ou serem pagos semestralmente.  

Assim, é possível montar uma carteira com diferentes títulos de acordo com seus objetivos, necessidades e horizontes de investimento. Uma boa alternativa para tal é contar com a escuta e a atenção de um planejador financeiro, que pode te ajudar nessa jornada ruma as suas aspirações.

Jaques Cohen, CFP® é planejador financeiro pessoal e possui certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Associação Brasileira de Planejadores Financeiros (Planejar). E-mail: [email protected]. Colaborou a advogada Helena Rippel Araujo, e-mail [email protected].

As respostas refletem as opiniões dos autores, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected].

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 30 de abril de 2018.

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