Quando devo sair dos investimentos de baixo risco?
“Tenho ouvido falar sobre a importância de sair de investimentos de baixo risco, mas estou em dúvida: quando e como fazer isso?”
Leticia Camargo, CFP®, responde:
Olá, caro leitor. Agora, com os juros em seu menor patamar da história aqui no Brasil (de 2% ao ano), faz-se mais relevante a necessidade de diversificação da carteira de investimentos.
O que ocorre é que, como os juros estão muito baixos, existe a possibilidade de a rentabilidade dos seus investimentos não conseguir nem acompanhar a inflação e, dessa forma, você pode acabar perdendo seu poder de compra.
Sendo assim, por onde começar? Primeiro, preocupe-se em guardar uma reserva de emergências. É ela que vai salvar você na hora dos imprevistos. É de lá que virá o valor necessário para bancar a necessidade de recursos. Portanto, pode ser preciso resgatá-la (ou uma parte dela) a qualquer momento. Sendo assim, não adianta querer diversificar a carteira antes de juntar o montante ideal para essa reserva.
A sugestão é que esse montante esteja entre 3 e 12 vezes o valor de seus gastos mensais. A reserva deve estar investida em produtos com baixo risco que possam ser resgatados a qualquer momento. Pode ser em Tesouro Selic, Fundo DI ou CDB DI de instituições financeiras com bom risco de crédito.
Aliás, tem muita gente dizendo que a renda fixa conservadora morreu, mas é muito importante manter uma parte de seus recursos investida nesses produtos. Primeiro por causa da reserva de emergências, mas também para servir como um colchão, segurando a rentabilidade de seus investimentos num momento de crise do mercado, já que são produtos de baixo risco e não costumam cair tanto.
Depois de montada a reserva de emergências, os valores que estiverem acima desse montante poderão ser diversificados em produtos com um pouco mais de risco.
O indicado é que essa transição da carteira para produtos mais arriscados seja feita aos poucos para que você possa perceber como se sente em relação a essas oscilações. Essa estratégia serve também para diluir o risco de entrar com todo o montante num momento de pico de alta de determinado investimento. Dessa forma, em alguns momentos os preços estarão mais altos e em outros, mais baixos, formando um preço médio para a sua carteira.
Vale ressaltar que a diversificação do portfólio deve ser feita considerando seus objetivos, seu perfil de risco e o horizonte dos investimentos. Dependendo de cada caso, ela poderá ser efetuada em produtos de renda fixa prefixada e renda fixa atrelada à inflação, em fundos multimercado, em fundos imobiliários e até em fundos de ações.
A sugestão de investir em fundos é para aqueles que não têm tempo, aptidão nem disposição para estudar o mercado. Nesse caso, o gestor é quem vai escolher os ativos que compõem a carteira do fundo e o investidor não precisará se preocupar com isso.
Outro fator importante é que agora, por causa dos baixos juros aqui no Brasil, o custo de oportunidade de investir em ativos no exterior está mais baixo e faz sentido compor uma carteira diversificada em outros países também. Inclusive, esse investimento pode ser feito com ou sem exposição a outras moedas. E o investimento já pode ser feito daqui do país mesmo, sem precisar mandar os recursos para fora.
Por fim, é muito importante procurar entender mais sobre os investimentos para que você possa tomar decisões mais bem embasadas. Ou, então, procurar um profissional habilitado para auxiliar você na escolha dessa nova carteira.
Leticia Camargo é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros.
As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected].
Texto publicado no jornal Valor Econômico em 19 de outubro de 2020