Quanto do meu salário devo reservar para investir?
Elleonora Braude, CFP®, responde:
Há quem recomende reservar ao menos 10% do salário para investimentos, mas na realidade o valor a ser investido mensalmente não pode ser definido de forma tão simplista. Para melhor analisarmos a necessidade de investimentos, precisamos entender quais são as características do investidor e seus objetivos.
As principais questões a serem feitas são:
1. Qual a sua idade?
Geralmente, quanto mais jovem, menores as obrigações mensais correntes e maior a possiblidade de poupar para investir. Quanto mais você conseguir investir desde cedo, menor será o esforço de poupança que precisará fazer mais tarde, pois você poderá contar com a rentabilidade de seus investimentos e com o tempo.
2. Qual o estágio de vida em que se encontra? É solteiro ou casado? Tem filhos?
Cada estágio da vida traz diferentes desafios para poupar e diferentes objetivos. Por exemplo, uma pessoa casada e com filhos tem mais obrigações mensais com que arcar. Nesses casos, muitas vezes existe o desejo de economizar para a educação dos filhos.
3. Como está seu orçamento? Você controla suas receitas e despesas?
Um controle periódico de suas finanças é essencial para conseguir se planejar.
4. Tem dívidas?
Caso tenha dívidas, elas precisam estar equacionadas e sob controle.
Após compreendidas as suas características, para se chegar ao valor a ser investido o ideal é entender quais são os objetivos de curto, médio e longo prazos. Os objetivos de curto prazo são aqueles de até 1 ano, os de médio prazo são aqueles que consideram o período posterior a 1 ano e anterior a 5 anos e os de longo prazo são aqueles para mais de 5 anos. Como fazer esse exercício?
O primeiro item é listar seus desejos. Pretende ter uma aposentadoria tranquila? Quer comprar um imóvel? Deseja fazer uma pós-graduação? Dessa lista, entenda quais desejos realmente quer concretizar, ou seja, quais deles devem se tornar objetivos.
Caso não esteja em sua lista, inclua a reserva de emergência e a reserva de aposentadoria. Elas sempre precisam estar presentes na lista de objetivos. A reserva de emergência precisa ter o valor de pelo menos 6 meses das despesas familiares e idealmente deveria ser um objetivo de curto prazo se ela ainda não existe. A reserva de aposentadoria dependerá da renda de que deseja usufruir em sua maturidade. Uma sugestão para quantificar o valor a ser acumulado para a aposentadoria é simulá-lo em diferentes sites de previdência.
Após revisar sua lista de objetivos, entenda quais são os itens prioritários para os quais deseja poupar, qual o valor total de cada objetivo e quando deseja completar cada um deles para conseguir definir o valor mensal a ser poupado.
Segue um exemplo para facilitar a compreensão: vamos supor que um dos objetivos seja comprar uma TV de R$ 3.000 em 6 meses. Então, temos que R$ 3.000/6 = R$ 500 por mês a serem poupados.
Esse é um cálculo simplificado, somente para dar uma diretriz geral. Lembre-se que, para objetivos de longo prazo, se o cálculo for feito dessa forma ele ficará distorcido, pois não considerará o valor do dinheiro no tempo.
Faça essa definição de valores mensais a serem poupados sucessivamente para cada objetivo listado. Uma vez que consiga quantificar o valor mensal para cada objetivo, some todos os valores. Essa somatória será o valor mensal a ser investido mensalmente.
Caso o valor mensal a ser poupado seja muito alto e difícil de se concretizar, revisite o seu orçamento e otimize seus gastos. Dessa forma, uma maior parcela de sua renda poderá ser destinada aos investimentos.
Também são alternativas revisitar a sua lista, modificando prazos e priorizando os objetivos, lembrando que a reserva de emergência e a reserva de aposentadoria sempre devem estar presentes, combinado?
Por último e não menos importante, esse não é um exercício estático. Objetivos mudam, nosso estágio de vida evolui e a vida acontece. Revisite sua lista pelo menos anualmente e, em caso de dificuldades nesse exercício, um planejador financeiro certificado poderá auxiliá-lo.
Elleonora Braude é planejadora financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros.
As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.
Texto publicado no site Época Negócios em 08 de janeiro de 2021.