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Planeje a vida, depois as finanças

Marcia Dessen, CFP®

A indústria de produtos e serviços financeiros influencia dois públicos: o consultor financeiro, treinado para vender produtos, e o cliente final, mediante um trabalho de convencimento de que este ou aquele produto é o melhor para ele.

Há décadas é assim, no Brasil e no mundo. Entretanto, quando o trabalho é centrado em produtos e serviços financeiros, é direcionado ao dinheiro que a pessoa tem e esquece o mais importante, a pessoa, o que ela pretende fazer com aquele dinheiro e como sua vida será afetada por essa decisão.

Não será fácil, para ambas as partes, mudar essa prática, mas, se estivermos comprometidos com um planejamento ético e responsável, teremos que inverter a ordem das coisas.

Planejar a vida

A primeira etapa do planejamento requer uma reflexão sobre a vida que queremos viver, como (com que estilo), onde (em que lugar), com quem (sozinho, em família, com amigos), quando (momento, fases da vida).

Você tem conversado com você, sobre você? Muitos deixam de fazer as coisas que gostariam de fazer porque acreditam que não têm dinheiro suficiente, ou que o dinheiro está reservado para outro projeto, que, por vezes, nunca se realiza.

Essa necessária reflexão pode ser solitária ou ser feita com a ajuda de um planejador financeiro comprometido com a experiência de primeiro conhecer um pouco sobre você, sua história, suas expectativas de vida. O planejamento não será completo e verdadeiro sem essa etapa. E, enquanto não houver informação suficiente sobre você e seus sonhos, ninguém terá o direito de lidar com o seu dinheiro.

Planejar as finanças

Com que dinheiro vou viver a vida dos sonhos? “Eu gostaria de fazer ao menos uma viagem por ano, quero curtir mais a vida, passar mais tempo com a família, mas não sei se tenho dinheiro suficiente.”

Por vezes, as pessoas se privam de fazer o que querem e admiram o que outras pessoas têm porque não sabem se podem.

Planejar as finanças significa fazer um estudo para estimar quanto dinheiro é necessário e suficiente para realizar os sonhos. Tenho dinheiro suficiente? Suficiente para o quê?

Um planejador financeiro pode ajudá-lo a fazer simulações, baseadas em premissas conservadoras, para saber quanto dinheiro deve ser poupado, durante quanto tempo, para acumular determinada reserva.

Pode estimar, também, quanto dura o capital já disponível, se o dinheiro termina antes da sua expectativa de sobrevida, se você morrerá com muito dinheiro, sinal de que você não terá vivido como poderia, ou se o dinheiro é suficiente para bancar o estilo de vida desejado.

Planejar os produtos

Por fim, importante, mas não tanto quanto os anteriores, planejar e selecionar os produtos financeiros adequados para acumular os recursos durante a vida, e posteriormente, utilizá-los e preservá-los, para realizar os sonhos.

Sem as duas primeiras etapas, persistirá a dúvida sobre a possibilidade de o dinheiro ser ou não suficiente e sobre a hipótese de o ritmo dos aportes e os rendimentos das aplicações bastarem para acumular o capital necessário.

A incerteza é terreno fértil para deixarmos de fazer as coisas que queremos. Planeje a vida, as finanças, os produtos, nessa ordem. Não pule as etapas e evite ser aconselhado por quem adota essa prática.

Certifique-se de que os produtos estão corretamente relacionados aos objetivos traçados e que contribuem para atender às necessidades e projetos de vida.

E que venha 2021, com muita resiliência, empatia, e cuidado com nossa vida e a de todos que nos cercam.

Artigo publicado originalmente na Folha de S.Paulo em 04/01/2021.

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