Quanto poupar para a aposentadoria
Tenho 45 anos, divorciada, sem filhos, com salário mensal líquido de R$ 15 mil, dos quais guardo R$ 5 mil. Moro num apartamento quitado e tenho R$ 1,5 milhão investido. Quero diminuir o ritmo aos 55 anos e manter o padrão de vida completando o salário com os ganhos dos investimentos. Conseguirei fazer isso sem dilapidar o patrimônio?
Gisele Andrade, CFP®, responde:
Você economiza um terço da renda líquida, um excelente percentual em princípio. Considerando a premissa de trabalhar por mais dez anos, montei cenários de juros reais. No caso mais conservador, considerei seus investimentos mensalmente acrescidos de cinco mil reais, rendendo em termos líquidos reais 1% ao ano (ou seja, depois de IR e inflação). Nestas condições, em dez anos você teria acumulado R$ 2.286.169,11, o que geraria mensalmente rendimentos de R$ 1.896,46.
Num exercício mais otimista, calculei o investimento valorizado por 3% ao ano, mais as economias mensais, encontrando um valor de R$ 2,71 milhões, o que daria uma renda mensal líquida de R$ 6,7 mil. A esses valores, se somariam provavelmente a aposentadoria (INSS) e, eventualmente, um plano de previdência privada. Mas para fazer uma análise mais conservadora, vamos trabalhar só com os ganhos da poupança acumulada nos anos de trabalho.
Como podemos constatar, os retornos esperados dos investimentos seriam insuficientes para manter seu padrão de vida sem consumir o seu capital. Isso pode levá-la a pensar em cenários alternativos. A expectativa de vida com a qual lidamos hoje tem a premissa que chegaremos aos 100 anos! Quanto tempo vai durar o patrimônio? Simplificando o raciocínio e considerando que seu padrão de vida consome algo como R$ 120.000,00 por ano, seus recursos seriam suficientes para um periodo entre 19 e 23 anos, dependendo do cenário (dentre estes acima expostos). Como comentei, a chance de viver mais 40, 50 anos é alta.
O que fazer nesse caso? É importante não ceder à tentação de correr riscos adicionais – isso provavelmente não seria suficiente para alterar o cenário de 10 anos de forma relevante. (Não é um prazo tão longo assim. Veja o que vem acontecendo com o mercado financeiro desde 2008). Desde hoje, busque uma alocação equilibrada. Segundo ponto: pense em priorizar o que de fato importa para sua qualidade de vida e diminuir alguns custos, gerando uma folga orçamentária. Mais adiante, despesas com saúde e cuidados pessoais costumam elevar-se.
Como você comentou que sua ideia seria “desacelerar” e não “parar”, com os valores aqui expostos será possível planejar o momento ideal de mudar de atividade, assim como escolher sua nova carreira de forma a manter o equilíbrio conquistado.
Por esse raciocínio, e sabendo como estará a remuneração de seus investimentos, será possível buscar uma transição tranquila, verificando o quanto precisa produzir para completar a “renda” sem consumir (ou consumindo o mínimo) os valores acumulados.
Gisele Andrade é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 06 de janeiro de 2014