Quero investir em criptomoedas. Por onde começar?
Tiago Horta Franco, CFP®, responde:
A chave para uma gestão patrimonial é a adequação da sua vontade de assumir riscos com a sua capacidade de assumi-los. Falando de outra forma é adequar os seus objetivos com suas limitações. Dentre estas limitações está a necessidade daquele capital para cumprir seus objetivos. Quando você tem um patrimônio para garantir suas necessidades, é possível ser mais agressivo em seus investimentos e, por exemplo, investir em criptomoedas.
Antes de mais nada, é importante entender bem sobre o assunto. Entender, principalmente, os argumentos daqueles que não gostam de investir nessa classe de ativos. Isso vai te dar uma ideia do tipo de risco que você correrá. Vale ressaltar aqui que o termo “risco” é uma característica de todo investimento. Na teoria financeira, não deveria haver nenhum ganho se não for se expondo a algum risco, que existe na renda variável, na renda fixa e até mesmo no Tesouro direto. Obviamente, alguns são menores, como tesouro direto, e outros maiores, como é o caso das criptomoedas. Existe também um impacto positivo de diversificação, principalmente se esses ativos não tiverem algum relacionamento econômico.
Agora, assumindo que a decisão de investir em criptomoedas já esteja equacionada, e você já reservou uma pequena parcela para tal, montamos os principais pontos abaixo para auxiliar no passo a passo para seus estudos:
1) Comece pequeno. Esse mercado é muito específico e tem uma dinâmica muito diferente do investimento em um banco/corretora.
2) Entenda o básico do conceito do blockchain e porque as criptomoedas são diferentes de outras moedas.
3) Espere grande volatilidade nos seus investimentos. Em 2017, o Bitcoin começou o ano na casa dos US$ 1 mil e chegou próximo de US$ 20 mil, voltando depois para quase US$ 3 mil no ano seguinte. Hoje, está próximo a US$ 9 mil novamente.
4) Saiba que não há nenhum ativo/valor que suporte o preço do bitcoin. Somente a lei da oferta x demanda, e o fato de que existe um número limitado de moeda a ser emitido.
5) Entenda que investir em criptomoedas te tira de um ambiente regulado. Isso quer dizer que não há qualquer fiscalização. No fim do dia, se ocorrer algum problema, você não pode contar com a CVM ou Banco Central para te auxiliar a reaver seu patrimônio.
6) Você pode comprar os tokens (as moedas digitais) diretamente de uma outra pessoa ou através de uma corretora. Se você não conhece alguém confiável, opte pela corretora. Existem diversas opções no mercado, mas você deve dar prioridade para as mais relevantes. Uma pesquisa rápida no Google te ajudará a identificar as mais renomadas.
7) Conheça o conceito de wallet: comparativamente a uma conta bancária, contém um par de códigos (um público e outro privado). O código público, permite que outros transfiram recursos para você. O código privado permite que você envie recursos para os demais.
8) Saiba que você só tem a posse das moedas se estiverem na sua wallet. Ao contrário do mercado financeiro tradicional, em que você tem a segurança da propriedade do ativo mesmo se a corretora quebrar, no mercado de cripto, ela não precisa nem quebrar. Basta que tenha seu sistema de segurança invadido. E isso não é incomum. Mas a sua propriedade está assegurada se os tokens estiverem na sua wallet.
9) Tome muito cuidado com fórmulas mágicas. Na verdade, isso vale para qualquer investimento, mas principalmente para criptomoedas. Se tiver qualquer menção a risco baixo ou retorno alto garantido, fuja! Como disse, risco é algo que faz parte da essência do mercado financeiro.
10) Comece pelo mais comum, Bitcoins. Depois, busque entender as diferentes propostas das demais moedas, como o Ethereum e Decred.
Em suma, a chave aqui é entender que é um mercado altamente especulativo, mas que cada vez mais tem levantado interesse dos investidores. Se te interessa e cabe nos objetivos que têm para o portfólio, teste a profundidade da água antes, mas nunca com os dois pés juntos!
Tiago Horta Franco é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. Email: [email protected].
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Texto publicado no site Época Negócios em 25 de fevereiro de 2020.