Tenho um VGBL, devo sacar e fazer outro investimento?
Tenho um vgbl e percebi que estou perdendo dinheiro. Devo sacar esse vgbl e fazer outro investimento?
Thiago Edirley Nemezio, CFP®, responde:
Você não deve resgatar sua previdência. A previdência na modalidade VGBL possui uma gama de vantagens em relação aos fundos tradicionais.
A primeira delas seria a não cobrança do imposto de renda chamado de “come-cotas”, que ocorre semestralmente (no último dia útil de maio e de novembro), exceto nos fundos de ações. Essa antecipação do imposto de renda acaba diminuindo sua rentabilidade final por não permitir que todo o recurso renda a juros compostos.
A segunda vantagem seria a possibilidade de portabilizar seus recursos para qualquer outro fundo VGBL sem a cobrança do ganho de capital e mantendo o prazo e a condição tributária. Ao contratar uma previdência, o investidor pode escolher entre as modalidades de imposto regressivo ou progressivo. Na modalidade regressiva, ele começa pagando 35% e há uma diminuição de 5 pontos percentuais a cada 2 anos até a alíquota de 10% aos 10 anos. Importante ressaltar que o prazo conta para cada aporte. Assim, você pode estar já há 10 anos em uma previdência e portabilizar para outro fundo sem antecipar o imposto e sem perder sua alíquota conquistada. Na modalidade de tributação progressiva, o resgate da previdência entra no “bolo” dos seus ganhos anuais tributáveis. Você pagará 15% no resgate e o restante em sua declaração anual de IR. Ou seja, uma pessoa que paga, por exemplo, 27,5% de IR em seus rendimentos tradicionais também pagará 27,5% em sua previdência.
Uma terceira vantagem é a possibilidade de fazer aportes recorrentes com valores baixos, o que ajuda no planejamento para a aposentadoria. Você pode cadastrar um débito automático para o dia que recebe o salário e garantir sua contribuição para os investimentos.
Por último, sem menos importância, há vantagens tributárias no momento da sucessão, pois o produto não passa por inventário (garantindo liquidez para a família em um momento delicado) e, em alguns estados, não há a cobrança do imposto sobre heranças, que pode chegar a 8% do valor bruto.
Assim, dados os pontos acima, é muito improvável que o resgate da previdência seja a melhor opção. Sugiro que se analise utilizar a portabilidade para outro fundo que faça mais sentido para seu perfil e que se busque a rentabilidade que você deseja (mas lembre-se que rentabilidade e risco estão lado a lado). Vale ressaltar que você pode migrar seu saldo para qualquer portabilidade aberta de qualquer instituição.
Interessante avaliar uma portabilidade para um bom FOF (fundo de fundos), assumindo uma posição mais passiva, mas não menos eficiente. Nesses produtos você conta com um gestor para escolher outros fundos que farão parte do seu portfólio de previdência. São produtos excelentes para investidores de longo prazo que não querem se preocupar em escolher os próprios produtos. Apesar de extremamente sofisticados, são bem acessíveis. Os fundos de fundos são tão eficientes para quem já possui recursos acumulados em previdência quanto para aqueles que querem começar do zero.
Se o seu objetivo é de curto prazo, a previdência provavelmente não é o produto recomendado. Por outro lado, se seu horizonte de investimentos é superior a 10 anos, a liberdade de movimentação, os benefícios sucessórios e o regime de tributação regressivo fazem da previdência privada um produto difícil de ser superado.
Thiago Edirley Nemezio é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].br
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Texto publicado no site Época Negócios em 08 de setembro de 2020.